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MEIO AMBIENTE
Segunda - 23 de Novembro de 2015 às 11:40
Por: Da Redação TA c/ Assessoria

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 Cerca de 30 pessoas, entre jovens e mulheres, do assentamento Antônio Conselheiro de Tangará da Serra (a 244 km de Cuiabá) iniciaram esta semana o curso do Programa de Educação Ambiental na Agricultura Familiar (Peaaf), realizado pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema).

Com a proposta de preservar os recursos naturais, como água e solo, e incentivar a permanência do jovem no campo, o curso discutiu o significado que cada pessoa tem diante da diversidade do mundo, a importância do trabalho conjunto e os desafios da educação ambiental. Ao todo, 15 temas serão discutidos ao longo dos próximos nove meses em diversas comunidades rurais de Mato Grosso. O curso é gratuito e possui carga de 240 horas, com certificação no final.

Andressa Alves da Silva, 16 anos, saiu do Rio Branco, no Acre, com apenas cinco meses de vida e desde então mora no assentamento com seus avós. Hoje, no 2º ano do Ensino Médio, ela confessa ter se interessado pela capacitação porque deseja aprender os métodos que a comunidade pode usar para evoluir sem degradar a natureza. “Minha expectativa é que nós possamos concluir o curso e juntos trabalhar em prol do assentamento.”

Para o prefeito de Tangará da Serra, Fábio Martins Junqueira, que participou da abertura oficial do curso no dia 14 de novembro, na Escola Estadual Ernesto Che Guevara, localizada no assentamento, o projeto é importante pelo poder multiplicador que possui. “Cada aluno poderá disseminar o conhecimento adquirido. E isso vai influenciar positivamente na comunidade”. O prefeito ainda parabenizou a iniciativa e defendeu que qualquer ação voltada a educação ambiental é sempre bem recebida no município. Além do prefeito, participaram da abertura oficial da capacitação, os secretários municipais de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ander Santos, e de Meio Ambiente, Arilson Hoffmann.

Durante a solenidade, Ander Santos, levantou a discussão sobre a importância da identificação do jovem enquanto ‘homem do campo’. O secretário acredita que não se pode pensar nas áreas rurais como ilhas isoladas do resto da sociedade, já que esse pensamento pode levar ao aumento da população nas metrópoles e sua diminuição no campo, gerando problemas sociais. “É preciso acabar com esse paradoxo iniciado ainda na escola de que homem do campo não alcança o sucesso, só o da cidade, porque não é verdade.” Já Hoffmann acrescentou que é necessário o trabalhador rural aguçar o sentimento de pertencimento. “A partir desse momento esse alunos serão atores engajados.”

De acordo com a superintendente de Educação Ambiental da Sema, Vânia Montalvão, o objetivo do Peaaf é justamente formar agentes populares de educação ambiental na agricultura familiar. “Queremos mostrar às famílias que o resultado do seu trabalho será mais produtivo e lucrativo se adotarem práticas sustentáveis”.

O assentamento Antônio Conselheiro fica a 26 km de Tangará da Serra e também abrange os municípios de Barra do Bugres e Nova Olímpia. Fundado no início dos anos 90, atualmente o assentamento possui 1.015 lotes de 20 hectares (ha) a 33 há, distribuídos para quase 2 mil famílias que sobrevivem da plantação e criação de animais.

O tema discutido durante a primeira aula da capacitação foi: ‘Educação Ambiental: os desafios, o indivíduo, a comunidade e sua interação’, em que os alunos participaram de dinâmicas, depois receberam a missão de realizar um mapeamento social, em que foi identificada a percepção ambiental do território e dos elementos simbólicos existentes na comunidade. A próxima aula será no dia 28 deste mês, das 7h30 às 16h30, com o tema ‘espaços e instrumentos de gestão ambiental pública’.

Permanência no campo

Casada, mãe de dois filhos adolescentes, Simone Ramos da Silva, 30 anos, é cozinheira e trabalha ao lado do marido com produção de leite e plantio de banana. Ao longo desses 19 anos em que mora no assentamento Antônio Conselheiro, ela presenciou a despedida de muitos jovens que saíram do campo em busca de melhores condições de vida na cidade. Nesse momento, tudo que ela mais almeja é que seus filhos permaneçam ao seu lado e deem a continuidade ao trabalho da família. “Meu desejo é recuperar as nascentes, elas estão se acabando e nós precisamos delas para trabalhar”. Para Simone, ao adotar práticas sustentáveis os assentados vão ter mais produtos de qualidade para consumir e vender, consequentemente, os filhos não terão que sair de casa para conseguir renda extra na cidade.

Mãe de três meninos e duas meninas, Keana Ana de Freitas, 52 anos, sabe bem como é perder os filhos para a cidade. Moradora há 16 anos do assentamento, ela e seu marido cultivam uma horta e contam apenas com a companhia do seu filho mais novo de 10 anos. Ela pretende atuar junto aos demais assentados para a preservação local. “Quero saber como cuidar do meio ambiente. Vejo que quanto mais a gente preserva, mais valor o produto tem”.

Vânia Montalvão explica que o órgão ambiental apresentará ferramentas adequadas e produtivas, ou seja, com resultados lucrativos e sustentáveis, para manter essas pessoas no trabalho rural. “Na maioria das vezes o jovem completa o Ensino Médio e vai pra cidade com objetivo de procurar emprego em qualquer área. Eles deixam os pais que envelhecem no campo sem garantia da continuidade desse trabalho. Nossa ideia é justamente o contrário, é valorizar a mulher e também mostrar ao jovem que vale a pena ficar no campo”.

Terra de agricultura familiar

Tangará da Serra está a 244 km de Cuiabá. è o 5º município mais populoso do Estado, com 94.289 habitantes, ficando atrás apenas de Cuiabá, Várzea Grande, Rondonópolis e Sinop. Segundo o prefeito, a colonização da cidade foi realizada em pequenas propriedades na década 50 quando foi implantado o projeto de loteamento urbano e rural. Além do Antônio Conselheiro, existe na cidade os assentamentos Triangulo, Vale do Sol 1, Vale do Sol 2 e o Rio Vermelho. Juntos eles aquecem a economia local por meio da agricultura familiar.

O Produto Interno Bruto (PIB) da cidade é de mais de R$ 1 bilhão. Enquanto a crise se instala em outros locais que dependem diretamente do agronegócio, Fábio informa que o município está estabilizado graças a produção do pequeno agricultor. “A agricultura familiar ajuda a manter a renda de Tangará, por isso é importante o apoio do município aos pequenos agricultores. Eles precisam de suporte para seguir com o trabalho”.

Curso integra secretarias

O curso do Peaaf do Ministério do Meio Ambiente (MMA) é executado pela Sema com apoio da Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer), do Instituto de Terras do Estado de Mato Grosso (Intermat) e das secretarias estaduais de Trabalho e Assistência Social (Setas), de Educação (Seduc) e de Agricultura Familiar (Seaf). O projeto conta com o investimento de R$ 750 mil do Fundo Nacional do Meio Ambiente e em contra partidas as prefeituras disponibilizam espaço, cozinheiras e transporte. 

As aulas estão sendo ministradas para seis turmas de cinco municípios. Uma delas é composta por moradores das comunidades de São Benedito, Santa Filomena, Coitinho, Figueiras, Bandeira, localizados no município de Poconé; a outra é do assentamento Forquilha do Manso, de Rosário Oeste; e as duas últimas são do assentamento Antônio Conselheiro, que abrange os municípios de Tangará da Serra, Nova Olímpia e Barra do Bugres. Os moradores dos assentamentos Vida Nova 1 e 2, de Peixoto de Azevedo iniciarão a capacitação a partir de março de 2016.

As aulas acontecem uma vez por semana. Ao final do curso cada aluno apresentará um projeto de educação ambiental para ser implantado na comunidade. Um projeto de cada turma será escolhido e receberá o apoio de até R$ 60 mil do Fundo Nacional do Meio Ambiente para ser executado. A superintendente explica que apesar de apenas seis projetos receberem o financiamento, a intenção é possibilitar que os assentamentos possam capitalizar recursos para colocar em prática os outros trabalhos. “Percebemos que esse é um meio de promover a geração de renda e incentivos para quem reside nesses lugares”.

Além do projeto, ao final do curso cada turma vai poder usar de sua criatividade para elaborar uma campanha de educação ambiental, voltada para a sustentabilidade no meio rural. Vânia informa que o resultado pode ser qualquer produto do meio de comunicação, como um jornal ou spot de rádio. 
 




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