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EDUCAÇÃO
Terça - 20 de Outubro de 2015 às 14:11
Por: Da Redação TA c/ Assessoria

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 O estudante Murilo Bernardes Franca de Oliveira é um dos 224 alunos mato-grossenses com surdez que fará o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) nos próximos dias 24 e 25. Para se preparar para a prova, passaporte para o ensino superior, o aluno teve que mudar a rotina. Os passatempos preferidos – futebol, cinema, festas e viagens – foram substituídos por estudos intensivos de matemática e língua portuguesa, disciplinas que enfrenta mais dificuldades.

Aos 17 anos, o aluno do 3º ano da Escola Estadual Maria de Arruda Müller, o Liceu Cuiabano, conta que estudou o ano inteiro e contou com o apoio da unidade de ensino, que apresentou uma programação diferenciada para os alunos quer vão fazer o Enem. Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) apontam que outros 865 alunos com deficiência auditiva (em diferentes graus) também participarão do Enem.

A escola onde Murilo estuda conta com uma sala de recursos multifuncionais que atende os 17 alunos com deficiência (nove surdos, dois com deficiências múltiplas, três com baixa visão e três com doenças degenerativas). Os jovens recebem o apoio educacional de acordo com cada deficiência e as dificuldades que enfrentam nas disciplinas, que no caso dos surdos são: leitura, compreensão e interpretação de texto.

Com os pais surdos, Murilo aprendeu desde pequeno a Língua Brasileira de Sinais (Libras). O irmão mais novo, de 12 anos, também é surdo, mas fez o implante coclear e optou por se comunicar pela oralidade – ele as duas línguas. Murilo também tem o implante, mas se comunica apenas por meio da linguagem de sinais. Ele comemora não sofrer pressão dos professores de língua portuguesa para usar a oralidade.

“Achei o ensino puxado e tive que me esforçar para entrar no ritmo. Mas gostei, pois desde então treino para o Enem, participo de ‘aulões’ e simulados e os professores também se esforçam para ajudar a todos”. A primeira opção para o jovem seria Letras em Libras, na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), porém o curso não é adaptado para a língua de sinais. Por isso, antes de Letras, ele deve tentar ingressar nas faculdades de Engenharia Civil ou Radiologia.

“A minha primeira língua é a de sinais e a segunda é a língua portuguesa, por isso não tenho fluência nela. E a estrutura linguística das duas é diferente e isso me preocupa 
por conta do meu desenvolvimento na prova”, conta Murilo. Acontece que em Libras não existem conectivos, as frases são compostas por sujeito, verbo e objeto, inclusive nos textos.

Murilo explica que o Enem apresenta dificuldades, pois apresenta muitos e extensos textos, sendo que algumas palavras não fazem parte do cotidiano da pessoa surda e a legislação brasileira impede o intérprete de traduzir o texto inteiro, permitindo apenas a tradução de uma palavra solta. Isso não permite ao candidato com deficiência contextualizar o assunto.

Para o garoto, a falta de adaptação da prova se dá por outra ausência: a de visibilidade das pessoas surdas. Ele conta que muitos surdos são filhos de ouvintes. Em Cuiabá são cerca de sete mil, mas em muitos casos a pessoa surda leva uma vida de ouvinte, como as pessoas da família sem deficiência.

“Me preocupo também com as pessoas surdas que não estudam, não trabalham, enfim, não são inseridas na sociedade. Sem fluência na língua de sinais não conseguem ser independentes”, lamenta. Essa preocupação o levou a querer cursar a faculdade de Libras, projeto que não deve seguir pela carência de adaptação. 




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