Em um acordo de delação premiada, o empresário denunciou o esquema de corrupção e alegou ter sido extorquido pelo grupo político
Delator entregava cheques a Nadaf e diz estar arrependido
As denúncias sobre fraudes no programa estadual de incentivos fiscais são investigadas na operação Sodoma, que resultaram nas prisões do ex-governador Silval Barbosa (PMDB), no último dia 17, e dos dois ex-secretários, que estão no Centro de Custódia de Cuiabá (CCC) desde o dia 15. As defesas negam que os acusados tenham cometido irregularidade ou sonegação fiscal.
As investigações apontam que o ex-governador e seu grupo cobraram propina do empresário desde 2011 no pretexto de mantê-lo inserido irregularmente no programa de incentivos. Os valores obtidos chegaram a pagar dívidas de campanha eleitoral do ex-governador, segundo a delação do empresário que se diz extorquido. O depoimento foi obtido com exclusividade pela reportagem.
Na delegacia, o empresário é questionado pelos delegados sobre os motivos que o levaram a celebrar o acordo da delação premiada com o Ministério Público Estadual (MPE). João Batista diz que não conseguia mais conviver com essa situação e ainda corre o risco de sofrer um processo. “Isso estava me tirando a paz, me tirando o sossego”.
As investigações apontaram que o empresário tinha uma ligação próxima com o ex-secretário Pedro Nadaf. Os dois eram dirigentes da Federação do Comércio de Mato Grosso (Fecomércio) e, assim que Nadaf assumiu o cargo de secretário de Indústria, Comércio, Minas e Energia, 2011, o empresário o teria procurado. João Batista teria solicitado ao então secretário a liberação de crédito de ICMS no valor de R$ 2,5 milhões, que estavam retidos na Secretaria de Fazenda e a inclusão das suas empresas no Programa de Desenvolvimento Industrial e Comercial (Prodeic).
O empresário relata à polícia que Nadaf agendou uma reunião com o então secretário de Fazenda, Marcel de Cursi, que sugeriu que o incentivo fosse concedido. “Desde que eu desistisse dos créditos que eu tinha direito. Depois que foi feito o incentivo e assinado o protocolo e já registrado na Secretaria de Fazenda, aí o Pedro me chamou para uma reunião e me disse: nós estamos te ajudando, mas precisamos da sua ajuda. Precisamos de R$ 2 milhões porque nós ainda temos dívidas de campanha”, declarou.
Ao ser questionado, o empresário disse ainda que foi vítima de extorsão para se manter no Prodeic de 2011 a 2014 e que o grupo teria pedido que ele pagasse o valor exigido em quatro parcelas de R$ 83 mil cada, fora cheques emitidos todo mês com valores de R$ 30 mil. Os depósitos teriam sido feitos em várias contas bancárias e distribuídos para oito pessoas. Essas pessoas seriam todas do círculo pessoal de Nadaf e são apontadas pela Polícia Civil como beneficiárias do esquema. Todas já foram todas interrogadas nesta mediante cumprimento de mandados de condução coercitiva expedidos pela Sétima Vara Criminal da capital.
Porém, este ano, o governo do estado entrou em contato com o empresário para que ele regularizasse a situação das empresas junto ao Prodeic. Faltariam documentos, e assim ele não poderia permanecer no programa de incentivos fiscais.
PRESENÇA DE SILVAL
João Rosa argumento em depoimento que os dois ex-secretários mantiveram essa documentação na irregularidade de propósito. Para mantê-lo sob controle e assim continuarem recebendo as parcelas mensais de propina. Contudo, o empresário disse que não sabe se o governador Silval Barbosa teve participação no esquema.