Escutas telefonicas mostram tráfico de influência de ex-governador no TJMT
Em viagem, o presidente do TJMT, desembargador Paulo da Cunha, não foi encontrado para falar sobre o assunto. Já o ex-governador Silval Barbosa encontra-se em localização desconhecida desde a tarde de terça-feira, quando passou a ser considerado foragido pela Polícia Civil, que não conseguiu cumprir mandado de prisão preventiva expedido contra ele na operação Sodoma, sobre fraudes na concessão de benefícios fiscais do governo. A apresentação do ex-governador é aguardada pela Polícia Civil, mas a defesa já protocolou pedido de Habeas Corpus no TJMT para que ele possa se apresentar sem acabar preso.
Escutas telefônicas
As interceptações são do Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco) com autorização judicial e mostram, entre outros, diálogos feitos no dia seguinte à prisão de Roseli Barbosa. Em primeiro lugar, Silval Barbosa telefona para um de seus advogados cobrando providências para obter a soltura de sua esposa.
Depois, no mesmo dia, o ex-governador recebe uma ligação de um telefone celular que consta da lista dos aparelhos funcionais do TJMT. Conforme a lista, o número é utilizado pelo desembargador Marcos Machado, que foi indicado para o cargo em 2011 pelo ex-governador durante sua gestão.
Na conversa, o interlocutor de Silval Barbosa afirma que está “aguardando o caso”, coloca-se à disposição caso ele precise de um “diálogo” e para “contribuir com alguma posição”. O ex-governador agradece e eles encerram a ligação.
Num telefonema seguinte, o interlocutor do ex-governador afirma que está ligando apenas para “lhe dar um retorno”, dizendo que “não foi o ideal”. O ex-governador tenta dispensar a conversa dizendo que retorna em seguida, mas o interlocutor insiste no recado de que “não foi o ideal”, dando a entender, segundo o MP, que alguma coisa não transcorreu da forma planejada, e ambos se despedem.
Tráfico de influência
De acordo com o MP, os diálogos ocorreram justamente nos dias em que Silval Barbosa e seus advogados tentavam obter no TJMT uma decisão pela soltura da ex-primeira-dama, presa sob acusação de comandar um esquema de desvio de dinheiro público da Secretaria estadual de Trabalho e Assistência Social (Setas), da qual foi titular durante a gestão do marido.
O pedido de soltura da ex-primeira-dama acabou tendo como relator o desembargador Rondon Bassil, que o negou. Roseli Barbosa só viria a conseguir decisão favorável mais tarde, no Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília. Para o MP, entretanto, as escutas evidenciam tentativa de interferência do governador junto ao Poder Judiciário.
De posse das gravações fornecidas pelo Gaeco, a reportagem da TV Centro América telefonou para o aparelho interceptado nas ligações com Silval Barbosa. Quem atendeu foi o desembargador Marcos Machado, que negou qualquer traço de tráfico de influência nos diálogos mantidos com o ex-governador.
Segundo Machado, ele mantém relacionamento pessoal com o ex-governador. O próprio magistrado lembrou que foi indicado para o cargo por Silval Barbosa (anteriormente, ele era promotor de Justiça) e classificou como uma “ofensa” o questionamento a respeito de eventual tráfico de influência. Ele ainda lembrou que não foi relator do pedido de liberdade da ex-primeira-dama no TJMT.
O Poder Judiciário de Mato Grosso ainda não se pronunciou oficialmente sobre as interceptações divulgadas pelo MP porque o presidente do TJMT, desembargador Paulo da Cunha, está em viagem.