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EDUCAÇÃO
Quarta - 23 de Março de 2016 às 09:28
Por: Da Redação TA c/Assessoria

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Em ação inédita realizada em Vila Bela da Santíssima Trindade (521 km a Oeste de Cuiabá), a Secretaria de Estado de Educação, Esporte e Lazer (Seduc) detectou cerca de 40 pessoas do povo Chiquitano fora da sala de aula. A situação foi constatada durante uma busca ativa na comunidade, feita entre os dias 17 e 20 deste mês, por profissionais da Coordenadoria de Ensino de Jovens e Adultos (EJA), ligados à Superintendência de Diversidades da Seduc. 

Ao investigar quais motivos contribuíam para que os indígenas estejam sem estudar, a Seduc descobriu que a dificuldade com o transporte tem influenciado decisivamente para isso. “A Escola Estadual Verena Leite de Brito, que fica no centro de Vila Bela, oferece aulas do EJA para eles. Alguns até estão matriculados, mas existe esse grupo que está fora das salas de aula porque mora no bairro Aeroporto, um pouco distante, e nem sempre o ônibus vai buscá-los”, explicou a técnica da Coordenadoria de Diversidade, Antonieta Luisa Costa, que acompanhou as visitas, juntamente com os professores João Bosco da Silva e Áurea Gardenia.

No entanto, o número de pessoas da etnia fora da sala de aula pode ser maior, segundo a professora. Por isso, um diagnóstico foi solicitado e deverá ser apresentado no início do mês de abril pelo diretor da escola, Aldamiro Ramos. Os dados nortearão às intervenções que a Seduc precisará realizar, visando o atendimento desses moradores. O gestor virá a Cuiabá para apresentar os dados.

Além do diretor, o cônsul da Bolívia em Mato Grosso, Emílio Tamoyo, também está contribuindo com as informações. “Precisamos trazer para perto. Diminuir a evasão escolar é isso. Descobrir os motivos e intervir com ações. Sabemos que a maior parte desse público fora da escola é mulher e que enfrenta, portanto, a vulnerabilidade social”, pontuou Antonieta.

Sugestões

Durante a visita, os Chiquitanos residentes em Vila Bela apresentaram algumas sugestões e reivindicações como perspectiva de inclusão social. Uma delas é a construção de uma sala anexa da EE Verena Leite de Brito no bairro Aeroporto. Outra alternativa diz respeito à intervenção da Seduc junto à prefeitura municipal para que o transporte escolar seja frequente e assíduo. Todas as possibilidades deverão ser analisadas.

Atualmente, para atender a demanda de Ensino de Jovens e Adultos na região Oeste existem unidades escolares e Centros de Ensino de Jovens e Adultos (Ceja) em Cáceres. No caso do Ceja, são atendidos os imigrantes que tem mais facilidade no aprendizado.

Outra demanda é sobre a língua-mater. A maioria dos imigrantes bolivianos dominam o idioma castelhano. No entanto, eles defendem que seja ensinado a Língua Quíchua, do povo Chiquitano. Para isso, solicitaram da Seduc a implantação do ensino na matriz curricular para imigrantes.

“Querem resgatar a cultura deles. Solicitaram que a matriarca ensine a língua para eles, para que a tradição não se perca. No caso, ela ministraria um curso para um determinado grupo e este seria multiplicador do conhecimento na comunidade. Estão sentindo essa necessidade, uma vez que a língua materna está se perdendo”, revelou Áurea.

Nesse caso, os encaminhamentos serão estudados para providenciar futuramente o curso. A matriarca citada reside na região fronteiriça da Bolívia com Vila Bela da Santíssima Trindade.

Na Política Para Imigrantes, elaborada pela Seduc, está previsto na matriz curricular uma carga horária etapa com especificidade para o público imigrante. Ou seja, maior quantidade de horas/aula de Língua Portuguesa. No caso dos bolivianos, o professor da área de linguagens deverá ser acompanhado por um intérprete do idioma castelhano, para facilitar o entendimento até dominarem o português.

Durante reunião com o secretário de Educação, Esporte e Lazer Permínio Pinto e o secretário adjunto de Política Educacional, Gilberto Fraga de Melo, a líder indígena Feliciana Maconho Paz Flores, representante dos índios Chiquitanos, disse que a intenção é promover o resgate da cultura, da língua materna. “É um patrimônio cultural que levou milhares de anos para ser construída e não pode se perder”, afirmou a liderança. 




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