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SISTEMA PRISIONAL
Sábado - 16 de Março de 2019 às 12:36
Por: Redação TA c/ Sesp-MT

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CDP LRV

Quem passa pelas largas ruas planejadas de Lucas do Rio Verde (360 km ao norte de Cuiabá) não imagina que o trabalho de reeducandos e, consequentemente, a esperança de uma oportunidade fora das grades, está por trás da produção de milhares de peças que calçam vias públicas, canalizam a água pluvial, enfeitam praças e são abrigos de paradas de ônibus.

A fábrica de artefatos de concreto e a serralheria instaladas nas dependências do Centro de Detenção Provisória integram o projeto Espaço de Trabalho Vida Nova e foram pensadas como uma forma de ofertar trabalho e ser oportunidade de reconstrução da vida de quem trabalha no local e ainda, reduzir custos para a administração pública. Com o emprego da mão de obra de 27 reeducandos, foram fabricadas no complexo, no ano passado, 153 mil peças de concreto e reformadas 20 coberturas de pontos de ônibus da cidade. Todos os produtos são empregados na área de serviços urbanos do município.

Os recuperandos são remunerados e têm no trabalho uma chance de não apenas garantir a remição da pena, mas de mostrar que podem contribuir e voltar à sociedade com dignidade. Desde que o projeto começou, há quase cinco anos, em uma iniciativa da Prefeitura Municipal com apoio do Poder Judiciário, Fundação Nova Chance, Sistema Penitenciário, Ministério Público, empresa privada e Conselho de Segurança da Comunidade, mais de 50 reeducandos foram empregados no local.

No espaço anexo ao Centro de Detenção Provisória são produzidos blocos, canaletas, tubos para galeria pluvial e de esgoto, estacas de cercas, pavers, telas e tampas de bueiro.

Opção de um caminho diferente

G. R., 46 anos, é um dos trabalhadores mais antigos na fábrica - está há três anos no local. Entre as centenas de blocos de cimento, manilhas e tijolos, ele diz que o trabalho é uma forma gratificante para não ver os dias passarem tão lentamente. “Quem abraça o detento quando ele sai da porta para fora? O próprio crime, já que muitas das famílias estão desestruturadas. Mas, graças a esse trabalho, temos a oportunidade de escolher um caminho diferente para seguir. A maioria das pessoas que está no projeto sai e não retorna mais para a cadeia. Dificilmente pagando só a cadeia tem chance de ressocializar. Por isso que o projeto pode colaborar para mudar nossa vida, pois são poucas as oportunidades que encontramos na rua”, afirma o reeducando que, com seu entusiasmo e dedicação, contagia os demais.

Outro reeducando, G.O.P., diz que participar do projeto é chance de reeducação e que todos ficam na expectativa de ter um bom comportamento para entrar na fábrica.

J.O.T., 65 anos, descreve o cenário de antes e depois da instalação do empreendimento. “Antes, aqui só tinha mato, a maioria dos presos tinha mau comportamento. Hoje, é diferente, nossa mente fica ocupada na fabricação. Nenhum fugiu, machucou ou morreu. Somos agradecidos pelo apoio e confiança depositada em nós”.

O diretor do CDP, José Ronaldo Frutuoso, é categórico quando afirma que o trabalho na unidade prisional transformou o comportamento dos reeducandos e trouxe mais comprometimento a cada um deles. “A oportunidade desenvolvida com várias parcerias é fundamental para não apenas proporcionar trabalho, mas também dar um novo alento a quem hoje está privado de liberdade, mas que um dia será reintegrado à sociedade”, pontua o diretor, afirmando também que o bom comportamento dos trabalhadores resulta em melhor disciplina dentro do centro de detenção.

Ronaldo acrescenta ainda que o fruto do trabalho ajuda no sustento de algumas famílias.“Eles recebem mensalmente um salário mínimo, que é depositado em conta. Os familiares deles estão bastante felizes com o projeto e alguns, até sem renda, se sustentam com o salário que eles ganham aqui dentro”.

“O trabalho e o estudo são ocupações importantes que podem auxiliar o reeducando a romper o círculo vicioso da criminalidade. E o projeto desenvolvido em Lucas do Rio Verde é exemplo de que a ressocialização pelo trabalho é o caminho para auxiliar na humanização do Sistema Penitenciário”, observa o secretário adjunto de Administração Penitenciária, Emanoel Flores.

Para abrigar os trabalhadores da fábrica, a unidade prisional está concluindo uma ala com capacidade para 48 reeducandos. A ideia é separar os internos que trabalham dos demais reeducandos, a fim de evitar retaliações. No novo espaço, os trabalhadores terão banheiro e poderão receber visitas, como já ocorre na ala comum.






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