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ESPORTES
Terça - 01 de Dezembro de 2015 às 09:50
Por: Da Redação TA c/ Assessoria

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A bola de um pouco mais de um quilo ganhou velocidade e direções inesperadas nas mãos do para-atleta mato-grossense Paulo Isac da Silva, 16 anos. Ele, que vem se destacando no estado e em competições nacionais, faturou o troféu de artilheiro na modalidade do goalball na edição 2015 das Paralimpíadas Escolares, ocorridas entre os dias 23 e 25 de novembro, em Natal (RN).

Bem criativo e com boa mobilidade em quadra, Paulo Isac foi responsável por 38 dos 48 gols marcados pela equipe montada especialmente para a competição -  composta ainda por Thalles Sampaio, 17 anos, e Wesley Rodrigues, 15 anos, de Tangará da Serra. Com duas vitórias e duas derrotas, os garotos enfrentaram times tradicionais e fortes. Na primeira rodada tiveram como adversários São Paulo e Pará, perdendo de 19x9 e ganhando de 17x7, respectivamente. Na segunda rodada, venceram o Maranhão por 11x7, e no quarto jogo da competição perderam novamente, desta vez para o time da Bahia, por 17x11.

De acordo com o técnico Marcelo Gomes Alexandre, mesmo sem passar para as semifinais, o time fez um bom trabalho e deixou toda a delegação do estado contente com o desempenho demonstrado nas Paralimpíadas. “Enfrentamos equipes com sistemas de defesa consistentes, em alguns momentos os meninos estavam cansados, pois o time estava sem jogador reserva, mas não foi o suficiente para deter a boa variação de arremessos do Paulo”, comemorou.

Alexandre comenta que o atleta surpreendeu a comissão técnica, fazendo gols com facilidade, coisa de quem tem na cabeça a quadra de marcações em alto relevo. “Ele tem características peculiares, normalmente, um pivô (jogador do centro/meio) tem alta estatura, ele não. Entretanto, compensa com sua agilidade. Em alguns momentos se locomovia pela quadra como se enxergasse e estivesse sem venda, o que chamou a atenção dos árbitros - o tempo todo estavam de olho nele, com o intuito de perceberem se estava trapaceando”, conta.

Outra especificidade do jovem é que normalmente um pivô pouco arremessa, devido ao fato de que se cansa muito ao fazer defesas, orientar a equipe e distribuir bolas para os alas. No entanto, Paulo foi o maior arremessador da equipe, mostrando também muita versatilidade. “No último jogo ele estava exausto, e quando não tinha mais forças arriscou com a canhota e fez vários gols. Tenho convicção que o menino tem um dom que poucos têm, pois, já acompanhei jogadores da seleção brasileira e a percepção tátil dele é comparável a de profissionais”, avaliou o técnico – que é especialista em Saúde e Envelhecimento e Mestre em Biociências e ministra aulas na rede municipal de ensino e em uma faculdade, além do Instituto dos Cegos do Estado de Mato Grosso (Icemat).

Para o atleta o troféu também foi uma surpresa. “Não esperava já que outros atletas teriam mais chances, disputando mais partidas do que eu”, comenta entusiasmado o garoto que nasceu em Paranaíta, mas se mudou para Cuiabá com a família em busca de tratamento.

Aos dez anos foi diagnosticado com glaucoma e catarata, e foi perdendo a visão aos poucos – hoje, tem visão monocular, apenas 20% de visão no olho direito. A cirurgia, muito arriscada, foi descartada por ele, que receia perder totalmente a visão. “É assustador pensar que eu posso deixar de enxergar em algum momento, mas enquanto isso aproveito todas as chances que tenho”, conta.

Carreira e treino

Artilheiro que nunca vê seus gols, como todos os jogadores da modalidade, praticado por pessoas com deficiência visual, Paulo Isac descobriu o goalball em 2013, quando passou a frenquentar o Icemat. Primeiramente, começou a treinar judô e futsal, após algum tempo foi se interessando pela modalidade que é pouco conhecida no Brasil, mas praticado em mais de 100 países nos cinco continentes. Se sentiu desafiado pelo novo esporte, já que não entendia muito bem as regras e os termos usados pela arbitragem – todos em inglês.

Alegre e extrovertido, diz que sempre gostou de esportes e se divide entre os treinos de judô e o goalball, mas já se aventurou pelo futsal e caratê. Paulo também frequenta as aulas no Ceja Almira Amorim e Silva, no período da manhã, gosta das disciplinas de português e educação física – já a matemática não é uma das preferidas. Para estudar ele conta com apostila e cadernos adaptadas, com letras ampliadas e cores e linhas mais fortes. 

A rotina é puxada. Ele sai de casa todos os dias às 5h da manhã, pega ônibus e vai para a escola. De lá segue para o Icemat – onde almoça, faz as tarefas, para isso conta também com auxílio de professores, além dos treinos esportivos. “Eu me locomovo bem, consigo pegar ônibus e andar sozinho”, admite.

As Paralimpíadas Escolares não foi a primeira experiência do atleta em competições nacionais. Membro do time profissional, participou, juntamente com o técnico e o técnico auxiliar Jonas Juvenal da Silva, do campeonato regional que ocorreu no início deste ano em Campo Grande (MS). A equipe conquistou o segundo lugar, garantindo assim a vaga para o brasileiro, realizado em outubro em Curitiba (PR).

Sobre o futuro, pensa em ser professor de educação física e atuar com paradesporto. Mas até lá sonha em chegar à seleção brasileira de goalball. “A gente sempre tem o desejo de ser convocado. Se atletas são as estrelas, o céu é a seleção”, brinca Paulo.





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