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EDUCAÇÃO
Quinta - 15 de Outubro de 2015 às 14:53
Por: G1 MT

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 Crianças e adolescentes estão crescendo sem acesso à educação em comunidades rurais de Mato Grosso. Os dados são do Ministério Público Estadual (MPE), que aponta a existência de pelo menos 80 jovens crescendo analfabetos no estado. Desse total, 24 crianças podem ser encontradas na Ilha do Piraim, na região de Poconé, 104 km ao sul de Cuiabá.

Nesse local, o caminho para a chegar à escola mais próxima depende do uso integrado de barco e ônibus, meios de transporte que não são disponibilizados na comunidade. Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público de Mato Grosso (Sintep-MT), Henrique Lopes, a existência de jovens em idade escolar "ilhados" em áreas de difícil acesso é uma realidade que já foi constatada no último relatório elaborado pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE).

"Nos municípios mais distantes, há 15 ou 20 linhas de transporte disponíveis que percorrem até quatro mil quilômetros diariamente para garantir o acesso de crianças e adolelscentes às escolas", disse.

Para Lopes, há uma "inversão de valores" nos investimentos feitos pelos governos municipal, estadual e federal, o que acaba por contribuir para o aumento de outros problemas, como o êxodo rural.

"Os entes federados não priorizam a fixação no campo. Eles preferem retirar as crianças e adolescentes do campo, fazendo-os percorrer até 70 km para chegar à escola na cidade, do que construir escolas no campo, facilitar o acesso à educação na região onde aquela pessoa está inserida, que é a sua realidade", afirmou.

Nos últimos 3 anos, Poconé recebeu quase R$ 600 mil do governo federal, verba que deveria ter sido usada para investimento no transporte escolar. Buscando sanar a situação, o Ministério Público Estadual determinou, em março deste ano, que o município resolvesse a situação dentro de cinco dias, prazo este que não foi cumprido.

Para o pescador Gonçalo de Souza, morador da Ilha do Piraim, o futuro dos filhos é incerto. "O menino tem 11 anos, fisionomia boa, mas vai crescer analfabeto. Se amanhã ou depois, quando ele fizer 18 anos e quiser sair daqui, como é que ele vai viver na cidade?", questionou.

Moradora da região, a comerciante Cilene Ferreira afirmou que não vê outra saída para as crianças da comunidade que não seja a pescaria ou a maternidade precoce. "A maioria vai ser pescador, né? Os meninos vão trabalhar como pilotos [de barcos] e a maioria das meninas vai casar cedo, com 15 anos. Daí, já engravida e fica assim, porque não tem serviço para menina aqui. É condenar a vida deles para um futuro negro", lamentou.





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