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CIDADE
Terça - 30 de Novembro de 2010 às 11:49

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A expansão do saneamento básico no Brasil pode ter como resultado direto a melhoria de diversos indicadores sociais do país, passando pela redução dos índices de mortalidade infantil e dos afastamentos do trabalho causados por doenças infecciosas. Mais água e esgoto para a população reduziriam também os custos do Sistema Único de Saúde (SUS) com internações relacionadas a essas doenças.

 "Não há como reduzir as taxas de mortalidade infantil sem melhorar a cobertura de saneamento básico", afirma o pediatra Evandro Roberto Baldacci, professor livredocente da Universidade de São Paulo (USP). De acordo com Baldacci, a deficiência na cobertura de água e esgoto é um componente central para os altos índices de mortalidade infantil no Brasil, sobretudo no Norte e Nordeste.

 "É um acinte a forma como a questão do saneamento é tratada nessas regiões. Em Manaus estão construindo um estádio de R$ 400 milhões para a Copa do Mundo, enquanto a maioria da população não tem acesso ao saneamento", destaca o professor.

 Estudo do Institute for Health Metrics and Evaluation divulgado pela revista médica britânica "The Lancet" apontou uma melhoria expressiva nas taxas de mortalidade infantil no Brasil, mas trouxe dados preocupantes sobre as áreas onde o saneamento é precário. A taxa caiu 61,7%, passando de 52,04 mortes por mil nascimentos em 1990 para 19,88 mortes por mil nascimentos em 2010, mas no ranking de Estados com maior índice as oito primeiras posições são de unidades do Nordeste, onde o saneamento tem desempenho abaixo da média nacional.

 Dados do Sistema Nacional de Informações Sobre Saneamento (SNIS), do final de 2008, mostram que 57% dos brasileiros não têm acesso a esgoto coletado. Os Estados com maior déficit são Piauí (com 97,49%), Amapá (96,44%), Rondônia (96,2%), Pará (95,1%) e Maranhão (88,63%). De acordo com Baldacci, enquanto no Norte Nordeste 25% da mortalidade infantil estão relacionados a doenças diarreicas, no SulSudeste o índice é de 10%. "Essa diferença está diretamente relacionada à melhoria dos serviços de saneamento." Segundo o professor, uma criança numa área urbana na região Nordeste tende a apresentar uma média de seis episódios de doenças diarreicas por ano, enquanto que numa área rural o número sobe para oito. "Em São Paulo, a média de ocorrências é de 1,6 ano ao ano, um número melhor até dos que nos Estados Unidos, embora ainda abaixo dos países nórdicos", afirma Baldacci.

 Estudo realizado pelas pesquisadoras do Departamento de Saúde Ambiental da USP Maria Tereza Razzolini e Maria Günther apontou que quase 80% dos casos de febre tifoide e paratifoide, 60% a 70% dos casos de tracoma e esquistossomose, além de 40% a 50% das doenças diarreicas e outras parasitoses, poderiam ser evitados com saneamento adequado. Maria Tereza avalia que a questão deve ser tratada de forma abrangente, como política pública.

"A política de saneamento deve levar em conta outros fatores, como por exemplo, a questão da habitação, já que nas áreas de moradias irregulares a população não costuma ter acesso à água e esgoto." Estudo realizado pelo Instituto Trata Brasil mostra que a universalização de água e esgoto no país teria grande impacto no sistema público de saúde. De acordo com a análise, num município de 100 mil habitantes sem saneamento, são esperados 450 casos de doenças gastrointestinais em um ano, número que cairia para 229 numa cidade do mesmo porte com água e esgoto universalizados.

 Com base nessa comparação, o Trata Brasil conclui que a cobertura total reduziria o número de casos no país de 462 mil para 343 mil. O estudo apontou que o custo anual estimado em horas pagas e não trabalhadas por conta de doenças relacionadas à falta de esgotamento sanitário é de R$ 547 milhões.O acesso universal à rede, conforme o estudo, faria esse custo cair para R$ 238 milhões por ano.






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