MARCELÂNDIA: Pior "cenário" em cinco anos
Mato Grosso volta enfrentar um momento crítico em relação às queimadas e sem estrutura suficiente para combate. Marcelândia (710 km ao norte de Cuiabá) é o exemplo do caos, com 112 casas queimadas, 29 madeireiras e serrarias atingidas e um prejuízo ainda inestimável. O prefeito da cidade Adalberto Diamante decretou situação de emergência. O fogo foi completamente controlado no final da tarde de ontem, segundo autoridades.
Marcelândia ganhou destaque pela proporção que o fogo atingiu, porém outros locais do interior também queimam, como Peixoto de Azevedo, Feliz Natal e o Parque Nacional do Xingú.
A história se repete. Desde 2005, quando a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) lançou o projeto de Combate a Incêndio, os mato-grossenses não enfrentavam uma situação tão complicada. Os focos de calor registrados de 1º de janeiro até ontem, se comparados com o mesmo período dos anos anteriores, só perdem para 2005. Este ano são 45.337 focos de queimadas detectados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), 178% a mais que no ano passado. Em 2005, foram 62.775 focos.
Para o secretário da Sema, coronel Alexander Maia, a atual situação em Mato Grosso não surpreende, uma vez que desde abril os relatórios ambientais mostram que o Estado passaria por um período intenso de baixa Umidade Relativa do Ar (URA) e excesso de material orgânico no solo, resultado dos baixos índices de queimadas no ano passado. "Isso faz com que qualquer fogo saia do controle".
Maia comenta que o Estado tem 500 homens para combater incêndios em todo território e afirma que enquanto não houver conscientização da população, o Estado continuará queimando.
Quanto a Marcelândia, o secretário destaca que foi uma fatalidade e que há 3 anos o município vinha reduzindo o número de queimadas. "A cidade não estava nem entre as 10 com situação mais preocupantes".
Para combater o fogo no município foram deslocados 100 homens, entre efetivo do Corpo de Bombeiros, da Sema, Defesa Civil e brigadistas do Ibama. A situação, conforme o prefeito Diamante, foi completamente controlada no final da tarde de ontem, eliminando chances de novos alastramentos. Ele explica que por volta das 2h a equipe de combate a incêndio conseguiu isolar o terreno, mas o fogo continuou queimando neste espaço delimitado por aceiros e agentes químicos.
Hoje, um comboio segue para a cidade levando 2 mil litros de água, 200 cestas básicas, 500 cobertores, 100 filtros de água e máscaras. Duas ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e 4 médicos da Polícia Militar também se deslocam para o local dando reforço ao atendimento de saúde.
O diretor da Casa Civil, Éder Moraes, afirma que o Estado vai viabilizar meios para reestruturação dessas empresas que queimaram em Marcelândia e deve elaborar um projeto emergencial para construção de casas para as pessoas que ficaram desabrigadas.
O governador do Estado, Silval Barbosa, que esteve no município, destaca que ainda é cedo para contabilizar em números exatos o prejuízo de empresários e famílias, mas apontamentos iniciais dos madeireiros e serralheiros variam entre R$ 7 milhões e R$ 10 milhões literalmente queimados em maquinários, estoque e galpões.
Ele destaca ainda que o projeto com foco na proteção ambiental teve início em 2005 e entende que a estrutura ainda é insuficiente, mas aponta evolução. Em 2005, a Sema contava com 250 funcionários e o orçamento anual para o órgão era de R$ 13 milhões. Hoje, são investidos R$ 63 milhões e a Secretaria possui 850 servidores.
O serviço social da Defensoria Pública também deu início ontem a uma campanha e pretende contar com o apoio da população mato-grossense na doação de alimentos não perecíveis, roupas, calçados, móveis, utensílios, remédios e materiais de construção para os moradores de Marcelândia.