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POLÍTICA
Quinta - 02 de Maio de 2019 às 15:19
Por: Robson Bonin e Marco Grillo, ÉPOCA

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Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo

O vice Hamilton Mourão tem experimentado um clima de “guerra fria”, segundo aliados relataram a ÉPOCA. Recentemente, com a desculpa de executar um “procedimento de rotina”, auxiliares da segurança do general fizeram uma varredura em busca de grampos nas salas do gabinete da Vice-Presidência, no anexo do Palácio do Planalto, e no Palácio do Jaburu. A suspeita de espionagem, no entanto, não se confirmou. Mas serve para ilustrar a que ponto chegaram as tensões entre o presidente Jair Bolsonaro e seu vice, ainda que, em público, haja uma tentativa de demonstrar harmonia.

Mourão entrou pela primeira vez na mira da ala ideológica e dos evangélicos quando deu uma declaração favorável ao aborto. A “traição” do vice à plataforma dos conservadores se deu em uma entrevista ao jornal O Globo , em fevereiro. Questionado sobre como os temas de gênero poderiam ser tratados pelo governo, o vice disse que o “aborto deveria ser uma decisão da mulher”.

A mudança de tom em relação à campanha é lembrada com irritação por quem hoje o critica. No período eleitoral, Mourão dava sinais em outra direção: admitiu a hipótese de um presidente dar um “autogolpe” com o apoio das Forças Armadas; afirmou que uma nova Constituição poderia ser redigida sem, necessariamente, passar pelo Congresso; criticou o 13º salário; e incorreu no preconceito ao dizer que o povo brasileiro havia herdado a “indolência” dos índios e a “malandragem” dos africanos. Em mais de uma ocasião, Bolsonaro precisou ir a público amenizar as declarações do companheiro de chapa.

Os adversários de Mourão também acusam o vice-presidente de seguir os passos de Michel Temer, que atuou nos bastidores pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016. O sinal mais claro das supostas más intenções do vice, segundo o núcleo ideológico, seria o entusiasmo de Mourão em desautorizar o presidente em todas as suas colocações, no intuito de minar sua autoridade.

Após as primeiras rusgas entre Mourão e Bolsonaro, no começo de abril, o deputado federal Marco Feliciano (Podemos-SP) viajou aos Estados Unidos para se reunir com o ideólogo do governo Jair Bolsonaro, Olavo de Carvalho. Naquele momento, Olavo e o pastor Silas Malafaia, adversário de Feliciano, trocavam ataques nas redes sociais em razão de críticas feitas pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) a imigrantes brasileiros na ilegalidade em solo americano. Feliciano enxergou na disputa virtual uma oportunidade de fazer de Olavo seu aliado. O deputado percebera que a união de setores evangélicos e olavistas poderia abrir caminho, no governo Bolsonaro, para o avanço do que Feliciano chama de “força conservadora”, uma aliança entre os seguidores do ideólogo e os religiosos alinhados com o pastor em busca de poder na administração federal.

Nascia ali, naquele encontro na Virgínia, nos EUA, o pedido de impeachment contra Mourão. O deputado voltou ao Brasil disposto a propor a perda do mandato do vice. Foi o que fez. No documento, listou “traições” ao presidente que justificariam seu impedimento. Mas sua investida foi freada pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que arquivou o pedido. Feliciano, contudo, jamais foi desencorajado pelo presidente em sua cruzada contra Mourão.





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