Toque de Alerta - toquedealerta.com.br
SEGURANÇA
Domingo - 18 de Outubro de 2015 às 23:39
Por: Do G1 MT

    Imprimir


Mais pessoas morreram em Mato Grosso do que em países com históricos de guerra civil, segundo levantamento divulgado na quinta-feira (15) pelo Ministério da Justiça. Ao todo, o estado registrou 1.276 assassinatos no ano de 2014.

Com uma taxa de 39,6 homicídios a cada 100 mil habitantes, o estado ocupa o 1º lugar da região centro-oeste e a 4ª posição no ranking nacional, ficando atrás apenas de Sergipe (45,0), Ceará (46,9) e Pará (40).


Em países como o Congo, que possui histórico de guerra, e a Colômbia, que tem alto índice de assassinatos associados ao narcotráfico, os índices de assassinatos registrados são de 30,8 e 33,4 a cada 100 mil habitantes, respectivamente.


A Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp) alega que a instituição tem um efeito preventivo “muito pequeno” em relação aos crimes de homicídio, pois a maioria desses crimes ocorre por motivação passional ou por vingança.


Um dos casos registrados em 2014 foi o duplo homicídio no bairro Jardim Umuarama, em Cuiabá
.Na ocasião, Poliana Alves e Luzinete Rodrigues foram mortas pelo ex-namorado de uma delas,  que não aceitava o fim do relacionamento.


Conforme a pasta, a PM mapeia as “zonas quentes” e direciona o policiamento ostensivo para essas áreas, enquanto cabe à Polícia Civil o trabalho de investigação, identificação do criminoso e encaminhamento do caso à Justiça.


Os dados do Diagnóstico dos Homicídios no Brasil apontam que, em Mato Grosso, o município deVárzea Grande é quem mais concentra homicídios a cada 100 mil habitantes, com uma taxa de 84,7. Na sequência, aparecem Rondonópolis, com índice de 52,9, e Cuiabá, com taxa de 42,6 assassinatos.


Segundo o levantamento feito pela Polícia Civil, até 30 de setembro deste ano, Cuiabá teve 172 homicídios – dois a menos do que o registrado no ano passado -, enquanto Várzea Grande apresentou queda de 27,5%: em 2014, foram 156 assassinatos em nove meses, contra 113 homicídios neste ano.


Para a professora Vera Bertolini, do Núcleo Interinstitucional de Estudos da Violência e Cidadania da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), os números divulgados hoje demonstram que o estado segue uma “tradição perversa” e que falta, por parte do governo, um maior investimento em políticas públicas.


“A gente segue uma tradição perversa de resolver os conflitos de forma radical, pela violência, e é lamentável que ainda não a tenhamos superado. Isso é um traço cultural no processo de desenvolvimento de Mato Grosso e eu acho que é inexpressível, se não inexistente, os investimentos do estado com políticas para superação dessa tradição do uso de violência para resolução de conflitos”, disse.


Segundo a professora, é preciso que o estado mude a sua postura de “prender muito os historicamente excluídos” e passar a estimular a adoção de medidas socioeducativas.


“Precisamos adotar medidas educativas mais inclusivas. Por outro lado, temos que considerar que nós, da região centro-oeste, temos um grande índice de concentração de renda. Devemos pensar em uma mobilidade social pela inclusão, com criação de programas inclusivos para aperfeiçoamento de mão de obra, acesso a programas culturas, práticas esportivas”, afirmou.


Armas de fogo

Conforme a pesquisa, entre as principais causas que contribuem para o alto índice de homicídios no estado estão a desigualdade social (59,8% da renda concentrada nas mãos dos 20% mais ricos) e o número de mortes por armas de fogo (24,1 a cada 100 mil habitantes).


Para Vera Bertolini, a facilidade na aquisição e circulação de armas de fogo no estado são fatores que contribuem diretamente para o aumento da violência.


“Há que se pensar que somos um estado de fronteira com a Bolívia e próximo do Paraguai, ou seja, temos uma facilitação de entrada de armas ilegais. Somos um estado fortemente agrário e trazemos ainda esse tipo de prática, de achar que estar armado dá algum resultado positivo. Isso é comum no campo, mas as pessoas acabam trazendo isso para a cidade”, afirmou.


Para a pesquisadora, é necessária a realização de uma campanha de desarmamento mais efetiva, bem como o aumento da vigilância da fronteira e o estímulo ao uso do diálogo para resolução de conflitos, ao contrário da radicalização por uso da violência.


“É lamentável, porque é a população mais jovem que está portando armas, pessoas que não tem uma estrutura emocional madura para não sair matando a torto e a direito”, afirmou.


Reincidência

A Sesp afirma que a redução dos índices de homicídios envolve vários atores e não apenas a Segurança Pública, uma vez que grande parte dos crimes está relacionada a drogas e situações de vulnerabilidade social e que, em pelo menos 60% dos casos, os autores dos crimes são reincidentes, “pessoas que vivem no mundo do crime”.


“Onde faltam políticas sociais de recuperação para jovens, saúde, emprego, renda, saneamento básico e asfaltamento, sempre haverá esse índice alto de homicídio", diz trecho da nota.


Segundo a pasta, o estado montou duas frentes de atuação, com a criação da secretaria adjunta de Ações Integradas, que tem como objetivo realizar ações de repressão e prevenção.,e  a divisão do Estado em 15 Regiões Integradas de Segurança Pública (RISP).


A  Sesp também ressalta a realização frequente de operações integradas em todo o estado, como é o caso da “Operação Impacto 3” em Cuiabá, Várzea Grande, Sinop e Rondonópolis, com foco na redução dos crimes de roubo, furto e homicídio.





URL Fonte: http://toquedealerta.com.br/noticia/5430/visualizar/