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POLÍCIA
Quarta - 30 de Abril de 2014 às 19:03

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Delegado Titular do GCCO, Flávio Henrique Stringueta.
Delegado Titular do GCCO, Flávio Henrique Stringueta.

Com mais de 400 membros presentes nas principais unidades prisionais do Estado e fora delas, a facção do Comando Vermelho de Mato Grosso (CV-MT) é apontada como a principal organização criminosa que, atualmente, comanda o tráfico de drogas, roubos e furtos, e explosões de caixas eletrônicos na região metropolitana de Mato Grosso, envolvida também em estelionatos, apologia ao crime, latrocínio e homicídios.

Nas investigações da Polícia Judiciária Civil de Mato Grosso há 255 membros da facção qualificados. Mas estima-se que facção tenha  ultrapassado a casa de 420 membros batizados.

Nesta quarta-feira (30.04), a operação “Grená”, deflagrada pela Polícia Judiciária Civil por meio da Diretoria de Inteligência e a Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), cumpriu 35 mandados de prisão (27 internos e 8 soltos) contra membros e colaboradores da organização criminosa. A operação ainda realizou buscas em 12 endereços de pessoas ligadas à organização criminosa. Para a operação a Justiça decretou 43 mandados de prisão preventiva contra integrantes da facção. Oito estão foragidos.

Durante as investigações, sete líderes da facção também foram transferidos para uma Penitenciária Federal no Estado do Rio Grande do Norte. Um oitavo criminoso, membro de outra facção,  também seguiu com o grupo para o presídio de segurança máxima de Mossoró (RN).

O delegado geral, Anderson Garcia, destacou a importância da desarticulação da organização criminosa, que se fortalecia no Estado de Mato Grosso, para a redução dos índices de criminalidade. “Essa operação mostra que os organismos de Segurança Pública, a Polícia Civil de Mato Grosso vinha acompanhando e produzindo provas contra pessoas que estão cometendo crimes de dentro dos presídios. A organização certamente sofreu um baque na sua estrutura com a operação Grená e esperamos melhorar os indicadores de criminalidade”, destacou o delegado geral.

O secretário de Justiça e Direitos Humanos, Antônio Possas, disse que a Sejudh vinha monitorando e mapeando junto com a Polícia Judiciária Civil a facção criminosa, tanto que o Sistema Prisional realizou a transferência 18 internos, sendo 10 para a Penitenciária de Rondonópolis e 8 para o presídio de Mossoró, no Rio Grande do Norte. “O Estado está preparado e está no comando de suas unidades. Temos o nosso serviço de inteligência e o serviço de contrainteligência ali e buscamos antecipar todos os fatos que acontecem, por isso caíram os números de fugas e tentativas de derrubadas do muro, que prevíamos e aguardávamos acontecer os fatos, tanto que foram presos parte da quadrilha”, destacou o secretário.

O CV-MT conta com membros em diversas unidades prisionais no Estado de Mato Grosso, dentre elas a Penitenciaria Central do Estado (PCE), o Centro de Ressocialização de Cuiabá (CRC), a penitenciaria feminina Ana Maria do Couto May, a Cadeia Pública do Capão Grande, em Várzea Grande, a penitenciária Major Eldo Sá Correia, conhecido por Mata Grande, em Rondonópolis, e a penitenciária Osvaldo F. Leite Ferreira, conhecida por “Ferrugem”, em Sinop.

Os membros estão presentes, especificamente em Raios e Alas reservados aos reeducandos mais perigosos e visando manter o controle sobre seus membros e atualizados quanto às decisões tomadas pelo comando da facção.

A facção mato-grossense nasceu no início de 2013 e funciona de forma independente do Comando Vermelho do Rio de Janeiro, criado em 1979, no presídio Cândido Mendes, na Ilha Grande (RJ), por um conjunto de presos comuns e presos políticos membros da Falange Vermelha, que lutaram contra a ditadura militar. “Meados do ano passado começamos a receber informações de que algumas pessoas estava tentando abrir um campo de atividade aqui no nosso Estado e começamos a monitorar as atividades desse grupo aqui no Estado e dentro do presídio”, disse o delegado titular do GCCO, Flávio Henrique Stringueta.

O CV-MT foi criado dentro da Penitenciária Central do Estado (PCE), idealizado pelo detento Sandro da Silva Rabelo, conhecido também por “Sandro Louco”, “Bile ou Bili”, considerado um dos organizadores da facção mato-grossense, juntamente com Renato Sigarini, conhecido por “Vermelhão”, Miro Arcângelo Gonçalves de Jesus, o “Miro Louco” ou “Gentil”, e Renildo Silva Rios, conhecido por “Nego”, “Negão” ou “Liberdade”.

A facção CV-MT, assim como outras organizações criminosas rivais, é acompanhada pelos serviços de inteligência da Segurança Pública, entre eles a Diretoria de Inteligência da Polícia Judiciária Civil que mantém contato com outras unidades de inteligência do país, no controle de informações das organizações criminosas que atuam de dentro de presídios brasileiros. “Utilizamos de todo o tipo de atividade de inteligência tanto da Polícia Civil quanto do Sistema Prisional e confirmamos que realmente estava intensa a arregimentação de pessoas para o Comando Vermelho e isso passou a preocupar as autoridades policiais e do Sistema Prisional”, destacou Flavio Stringueta.

De acordo com o GCCO e a inteligência da Polícia Civil de Mato Grosso, o CV-MT visando à expansão da facção criminosa estabeleceu duas principais ações iniciais importantes, a primeira dela foi à criação de um “Conselho” denominado “Conselho do Estado” ou “Conselho Final”, compostos por reeducando do mais alto nível de conhecimento sobre as regras do estatuto. Na estrutura do “Conselho Final” há os cargos de presidente, do vice-presidente, do porta-voz e do tesoureiro.

A segunda ação tida como crucial para o desenvolvimento da facção foi fixar autonomia em relação ao Comando Vermelho o Rio de Janeiro, não tendo que prestar contas das atividades ao comando nacional e nem efetuar pagamentos mensais. No entanto, existe uma aliança entre as duas facções.

Uma vez fixando como facção independente, a organização buscou acordo junto a facções rivais, ficando de comum acordo a proibição de “batismo” ou entrada de novos membros a partir de 01 de julho de 2013. A partir dessa data não podiam batizar novos membros e ficou estabelecido ainda que jamais haveria desentendimento entre as facções, tendo em vista que há um elo entre elas, permanecendo o respeito.

O diretor de Inteligência da Polícia Civil, Marcelo Felisbino Martins, explica que o reflexo da “carta branca” deu autonomia para a facção do CV-MT pudesse atuar dentro e fora das unidades prisionais, conquistando novos integrantes e alcançar seu objetivo principal, o domínio do tráfico de drogas em Mato Grosso e também o fortalecimento da estrutura bélica do comando. “O CV-MT em tão pouco estruturou de tal maneira que alguns membros do ‘Conselho Final’ criaram uma espécie de recursos humanos, usado para coordenar o cadastramento de novos membros, bem como recrutar novos e também um sistema de arrecadação mensal”, disse o diretor.

Conforme Marcelo Martins, a facção está organizada na forma de empresa, uma das características do crime organizado. “Eles criaram uma rede de comando muito forte, com uma liderança muito forte, cada um com sua função, administrativa, financeira e tinha os soldados na rua que fazem a função de cometer os crimes para a facção”, explicou. “Eles têm contatos com o mundo externos. Não podemos descartar também os telefones celulares, que inevitavelmente acabam entrando. Os chips são muitos pequenos e entram com muita facilidade. Um aparelho serve para vários chips e são usados coletivamente”, completou.

Participaram da operação mais de 100 policiais lotados na Diretoria de Inteligência, Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), Gerência de Operações Especiais (GOE), Delegacia Especializada de Entorpecentes (DRE), Delegacia de Homicídios e Proteção a Pessoa (DHPP), Delegacia do Meio Ambiente (Dema), Delegacias de Roubos e Furtos (Derf), de Cuiabá e Várzea Grande, Delegacia do Adolescente (Dea), Delegacia do Consumidor (Decon) e Delegacia Fazendária.

Transferidos

Os criadores e articuladores do CV-MT, Renato Sigarini, Miro Arcângelo, e Renildo Silva foram transferidos no começo de abril para uma penitenciária federal no Estado do Rio Grande do Norte. O único que permanece ainda no Estado é o principal mentor e líder da facção, “Sandro Louco”, que por ter contraído hepatite não poderá entrar em outra unidade.

Também foram transferidos para a unidade de segurança máxima, no Estado do Rio Grande do Norte, os internos membros do staff do CV-MT: Toleacil Natalino da Costa, conhecido por “Tulio”, “Tulia” ou Tolha”; Isaias Pereira Duarte, o “Caverninha”; Rudney Rodrigues dos Santos, conhecido por “Pinguim” e Leonardo Flávio de Souza, o “Bocão”.

Na operação também mudou de domicílio prisional Marcílio Souza Bezerra, membro de uma facção rival. As transferências dos detentos foram comandadas pela Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh) com apoio da Polícia Federal.






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