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JUSTIÇA
Quinta - 02 de Agosto de 2018 às 19:51
Por: Arthur Santos e Celly Silva, do Gazeta Digital

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Chico Ferreira

Ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro, que cumpre prisão domiciliar desde o dia 26 de fevereirodeste ano, voltou ao Fórum de Cuiabá na tarde nesta quinta-feira (2) para participar de uma audiência de justificação. Ele foi alvo de uma denúncia anônima apontando que estaria reunindo capangas para reivindicar a chefia do crime organizado em Cuiabá e por isso foi intimado a dar explicações em juízo.

Na audiência, presidida pelo juiz Geraldo Fernandes Fidélis Neto, Arcanjo negou ser dono da empresa Colibri, cujo nome aparece em anotações apreendidas pela Polícia Civil no mês passado ao desmantelar uma central do jogo do bicho no centro de Cuiabá. "Eu passei 15 anos da minha vida preso, sofrendo, o senhor acha que eu sou bobo? Eu posso ser tudo, menos bobo e burro", disse ele ao promotor de Justiça, Rubens Alves de Paula.

Quando perguntado se era dono da Colibri e havia retornado ao jogo do bicho, João Arcanjo questionou o fato de a denúncia contra ele ter surgido de forma anônima "Está com medo de quê? Pra ele é muito fácil se esconder no anonimato", argumentou.

O promotor Rubens Alves apresentou uma série de nomes, como do ex-policial Manoel, que Arcanjo disse conhecer mas negou ser seu segurança. Citou ainda o nome Alberto, que seria o concorrente de Arcanjo. Por sua vez, o ex-bicheiro afirma ser uma "inverdade". Ele também negou conhecer Deomar Wess e Antônio Tolentino, citados na denúncia anônima.

Durante a audiência, o genro e administrador das empresas de Arcanjo, Giovanni Zem Rodrigues, também foi chamado para esclarecer pontos da denúncia, que indicavam que ele teria ameaçado Antônio Toniasso, que seria um concorrente. Ele afirmou que em dezembro do ano passado, quando seu sogro ainda estava preso, recebeu em seu escritório, na Avenida do CPA, o senhor Antônio, que teria lhe dito que detinha cerca de 30 pontos de jogo do bicho e os ofereceu como negócio, mas Giovanni afirma ter recusado a proposta, pois a família não trabalha mais com isso.

O advogado Zaid Arbid afirmou que Arcanjo é o principal interessado na verdade e que sequer procurou a Polícia Civil após as apreensões para não parecer que queria interferir. Ressaltou ainda que seu cliente tem se dedicado ao trabalho lícito, à família e aos estudos, fazendo curso técnico de Administração e de inglês, no horário em que está autorizado a sair de casa.

A pedido da defesa, o promotor pediu que seja identificado quem protocolou a denúncia para que seja intimado a depor. A intenção é descobrir se alguém "armou para o lado de Arcanjo". O juiz Geraldo Fidélis determinou que seja identificado por meio das câmeras do protocolo do Fórum de Cuiabá, quem fez as denúncias. Ele marcou outra audiência para o dia 13 de setembro para ouvir a pessoa, caso seja identificada.

Advogado classifica denúncia como maldade

Antes de iniciar a audiência, o único a falar com jornalistas nos corredores do Fórum foi Zaid Arbid, comentando sobre as acusações. Ele resumiu a situação como maldade pura. “João Arcanjo incomoda. João Arcanjo é uma pessoa diferenciada”, complementou o advogado.

“É maldade pura. Você acha que uma pessoa que passou mais de 14 anos reclusa, se desfez de tudo que fez, vai pegar e vai voar para o passado, para apenas um jogo do bicho, 20 ou 30 pontos, vai trocar a liberdade por um jogo de bicho?”, questionou o jurista ao lado de seu cliente.

Antes de ser chamado para a sala de audiências, Arcanjo, agora com traços de expressão mais saudáveis, se manteve quase calado, gesticulando com sorrisos irônicos quando questionado. Uma das poucas respostas foi que se sente feliz fora da prisão e que concorda que é uma figura popular, que gera simpatia e até antipatias entre grande parte da sociedade mato-grossense.

A necessidade de justificativa é recente. A Vara de Execução Penal de Cuiabá recebeu denúncias de que o ex-bicheiro estava de volta no mundo do crime. Dois supostos atentados teriam sido registrados. Documentos também foram apreendidos pela Polícia Civil numa área de jogo do bicho. Nos papeis, constavam o nome de Arcanjo e alguns familiares.

Porém, segundo Zaid Arbid, seria pura desinteligência questionar as condutas recentes de seu cliente. “A última coisa que você pode pensar de João arcanjo Ribeiro é que ele seja estúpido. Jamais ele vai ser estúpido. Ele é conhecido pelo tirocínio, como empreendedor. Ele não vai voltar e trazer uma situação ao espaço para trás, e trazer uma situação contrária a ele”, afirmou.

A progressão de regime do ex-bicheiro, do fechado para o semiaberto, foi deferida em fevereiro deste ano, considerando o bom comportamento durante os 14 anos e 9 meses de prisão.

Segundo a defesa, a única ação de Arcanjo tem sido no sentido de comemorar a vida fora da cadeia. “Tem celebrado a liberdade. Acima de tudo. E com respeito, com a devoção e com a reverência determinada pelo Poder Judiciário”. “Hoje , mais que nunca, João Arcanjo Ribeiro acredita, precisa e põe fé na Justiça. Reverencia o Poder Judiciário”, finalizou.






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