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Segunda - 23 de Outubro de 2017 às 18:07

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Cleberson Queiroz é PhD em Oncologia pela Universidade de Liverpool (Inglaterra)
Cleberson Queiroz é PhD em Oncologia pela Universidade de Liverpool (Inglaterra)

Como médico oncologista e pesquisador, ouço com freqüência a pergunta: “Doutor, será que um dia a medicina encontrará a cura do câncer?” Esse questionamento me leva sempre à mesma conclusão: a medicina já encontrou essa resposta para grande parte dos casos de câncer.

No ano de 2014, pela primeira vez, as estatísticas mostraram que, no geral, mais da metade dos pacientes com câncer conseguem ser curados. Isso mesmo! Levando em consideração tumores de todos os tipos (exceto câncer de pele), mais de 50% dos pacientes já são curados. Outro dado positivo: o tempo médio de sobrevida de pessoas diagnosticadas com câncer subiu de apenas 1 ano em 1971 para mais de 10 anos em 2014. Lembro que esses números representam uma média – alguns pacientes vivem muito mais. Com esses dados, podemos concluir que os avanços da medicina na luta contra o câncer foram enormes nos últimos 40 anos. Muito desse avanço se deve às evoluções no tratamento da doença, mas também, e talvez principalmente, ao diagnóstico precoce.

Então porque muitas pessoas ainda morrem vítimas da doença? Bom, primeiramente precisamos entender que “câncer” é um nome genérico para mais de 100 doenças diferentes, de natureza e comportamento diferentes. E de resposta diferente aos tratamentos. A maioria das mortes ocorre em casos muito avançados para serem curados. Se a maioria dos casos iniciais já é curada, então, a pergunta correta seria: “será que a medicina vai encontrar cura para o câncer já muito avançado desde o diagnóstico?” Novamente, a resposta é: para alguns casos, já encontrou.

Alguns tipos de câncer, como o de testículo, linfomas e tumores placentários tem altas taxas de cura mesmo quando são avançados. Cânceres infantis têm taxas de cura próxima dos 80%. Mesmo alguns tumores antes incuráveis quando muito avançados (como o câncer de intestino com metástases para o fígado) já podem ser curados em até 30% dos casos. E esses números certamente continuarão a melhorar.

Porém, a idéia de que todos os cânceres avançados serão curados é mais distante da realidade. O câncer é, na maioria dos casos, uma doença degenerativa, resultado do acúmulo de alterações genéticas nas células. Tais alterações são provocadas pela exposição do nosso corpo a tudo que temos contato ao longo da vida: fatores externos (como alimentação, poluição, radiação, certos vírus) e internos (como hormônios próprios, hereditariedade, etc). Doenças degenerativas são o resultado do envelhecimento natural. Infelizmente, ainda não há meios efetivos para combater o envelhecimento. Todos conhecem vários exemplos de doenças degenerativas comuns: hipertensão, diabetes, osteoporose, cirrose, enfisema - a lista é enorme. Nenhuma delas é curada, mas sim controlada. É o que a oncologia atual busca: controlar a progressão do câncer avançado o máximo possível e, principalmente, melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

Por fim, cito uma passagem do ótimo livro O Imperador de Todos os Males – Uma Biografia do Câncer, do americano Siddhartha Mukherjee:

A morte na velhice é inevitável, mas a morte antes da velhice, não. (...) Essa idéia (evitar as mortes por câncer antes da velhice) representa um objetivo muito mais razoável para definirmos o êxito da guerra contra o câncer.”

Cleberson Queiroz é PhD em Oncologia pela Universidade de Liverpool (Inglaterra) e oncologista da Oncocenter.

Email: cjqueiroz@hotmail.com



URL Fonte: http://toquedealerta.com.br/artigo/1021/visualizar/