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Sábado - 14 de Junho de 2014 às 09:27
Por: Lourembergue Alves

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O futebol não seria o mesmo sem a copa do mundo, a qual, por sua vez, coisa alguma se tornaria sem aquele. E não é para menos, pois toda grande mercadoria carece também de uma grande vitrine. Em torno desta gravitam outras tantas de menor projeção, mas igualmente imprescindíveis ao espetáculo criado, cuja plateia é, ao mesmo tempo, torcedor e consumidor. Suas despesas não se restringem ao preço dos ingressos, mas a uma série de bugigangas que se associam ao jogo, time e aos jogadores, somados a condução e hospedagem.

Torcer é tudo isso, e bem mais. Pois ele se vê amarrado às cores do clube da paixão, e até mais patriótico quando demonstra sua ligação com a seleção do país, cujos atletas tornam-lhe familiares, ainda que posicionados em uma esfera social muitíssimo além da sua.

Isso, porém, não tem importância. Relevante, aliás, é o gol que permite a vitória. Ainda que não se tenha uma boa partida, nem belas jogadas. O placar se sobrepõe a tudo e entusiasma a todos, mesmo quando não se tem o chamado desenho ou esquema tático.

Afinal, nem sempre a vitória resulta-se do melhor desempenho. Já se teve seleção campeã com apenas duas jogadas: evitar tomar o gol e dar chutões à frente, com o fim de encontrar alguém com a habilidade para empurrar a bola para o fundo das redes. 1994, aliás, parece não estar assim tão distante. Isso porque as esperanças de hoje se canalizam a dependência de todo o time, e do próprio torcedor, em um único jogador.

Jogadas táticas, contudo, não existiram na partida de estreia. Tampouco existirão nos jogos que virão. A seleção parece não ter um padrão de jogo. Tudo nela depende dos lances individuais que, por sorte, podem contar com a participação de dois ou três jogadores. Mas esta participação nada tem a ver com o padrão, tática e planejamento.

Situação que pode ser denunciada pelas câmeras de TV. Suas lentes registram as melhores imagens. Disso não se tem dúvidas. Mas, mesmo assim, é preciso do olhar atento e crítico do telespectador. Cabe a este também tirar suas conclusões, fazer suas leituras.

Diz-se que o bom leitor – no real sentido desta palavra – é aquele que faz, simultaneamente, a leitura emocional, sensorial e racional. Isso também vale, e como vale, para a leitura das imagens. Pois estas, evidentemente, convencem, porém bem mais são capazes de seduzir, fazendo com que o telespectador venha a perder sua criticidade, deixando se levar apenas pela onda do sentimento, da paixão. Futebol, aliás, é essencialmente, paixão para o torcedor, alto negócio para seus organizadores, empresários e jogadores. Daí a sua força como mercadoria. Uma mercadoria de fácil aceitação no mercado.

Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br


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