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Segunda - 28 de Abril de 2014 às 06:33
Por: Lourembergue Alves

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Há trinta anos, o Projeto de Emenda Constitucional número 5/1983 foi rejeitado pela Câmara dos Deputados. Esvaíram-se, naquele instante, sonhos, vontades e desejos. Tripé cantado e decantado pelas ruas e praças brasileiras. O ano era 1984. Muito ainda se tem, fisicamente, do país daquela época. Poucas lembranças, contudo, restaram das manifestações a favor das Diretas-já, bem menos ainda da movimentação que contrapunha a volta da eleição direta para presidente. Exceto, é claro, nos arquivos e nas prateleiras da imprensa. Quase nada desse acervo, entretanto, veio a público no dia 25 de abril. Esta data só não passou batida por causa de meia dúzia de linhas digitada em nota de rodapé, e, infelizmente, não saiu deste espaço nem mesmo em Mato Grosso – unidade natal do autor do referido projeto.

Dante de Oliveira era, então, calouro no Congresso Nacional. Condição que faz uma porção de parlamentares se retrair, ficar presa a sua própria solidão ou, na melhor das saídas, procurar a sombra das velhas raposas, até para não ver a própria imagem apagada. Este não era o destino do mato-grossense que, diante das incertezas de um regime já agonizante, apresentou o projeto que restabelecia eleição direta para presidente. Teve um trabalho danado para coletar as assinaturas necessárias, e, depois, contou com a ajuda de um forte padrinho político, Ulisses Guimarães. Este lhe abriu portas e fez andar sua proposta.

Tanto que saiu das dependências do Parlamento, e ganhou os logradouros, caindo no gosto dos brasileiros. Estes tomaram as praças de cidades como Goiânia, Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro, em um só coro: “Diretas-já”. E olhe que a dita manifestação começou no recém-emancipado município de Abreu e Lima, em Pernambuco, no dia 31 de março de 1983, e dali se espalhou pelo país. A oposição se entusiasmou toda, enquanto os governistas se reorganizaram em suas trincheiras. Velhas, porém, suficientes para barrar a euforia popular. O resultado saído do plenário da Câmara Federal foi simplesmente decepcionante: 298 deputados votaram a favor de Emenda Dante de Oliveira, 65 contra e 112 não compareceram. Faltaram 22 votos para a aprovação.

Decepção, desaprovação e tristeza. A nação se viu enlutada. Historiadores e estudiosos da política deram seus diagnósticos a respeito. Um desses diagnósticos, inclusive, fala na leitura equivocada dos oposicionistas, uma vez que aquele ainda não era o momento ideal para tamanha aposta.

Equivocam-se, na verdade, os que pensam deste modo. Pois, não se tem dúvida de que aquele era o período ideal, até em razão do próprio cenário: inflação em alta, preços da alimentação em crescimento, desemprego assustador, dívida externa elevadíssima, descontentamento e insatisfações, pluripartidarismo e o regime fragilizado.

A oposição, contudo, não foi capaz de visualizar a artimanha do governo, seus trunfos e aparato bélico para conter a multidão. E conteve, igualmente, o ímpeto na votação. Frustra-se, tanto ou infinitamente mais, quando não se viu, na última sexta-feira (25/04), registrado a passagem dos trinta anos daquele emblemático e extraordinário retrato do povo às ruas e praças, clamando por eleição direta para presidente. Nem mesmo no Estado de Mato Grosso. Isso é muitíssimo triste, especialmente no momento em que inexistem as verdadeiras lideranças políticas.

Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.


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