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Sexta - 25 de Abril de 2014 às 12:12
Por: Lourembergue Alves

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Machado de Assis, em 1874, escreveu o conto “Valério”, no qual um de seus personagens, coronel Borges, se coloca como apaixonado pela política. Esta, no dizer dele, “é o sol que ilumina o mundo moral”. Frase, no mínimo, curiosa, especialmente quando trazida para os dias atuais. Isso porque, infelizmente, o cenário político-partidário-eleitoral é marcado por denúncias que se estendem de fraudes até ao desvio do erário, passando pelo uso indevido do cargo e da máquina pública, quase sempre em proveito de particulares.

Estas realidades, que estão longe de ser unicamente do período agora vivido, mas desde sempre, põem em xeque a crença do coronel Borges, além de tornar o país “ermo”, sem vida, e, por outro lado, promovem o alheamento do grosso da população. Condição que lhe faz mais vulnerável à propaganda oficial, embalado pela onda do faz de conta. Isso explica o não estar nem aí para as coisas erradas que ocorreram e ocorrem, por exemplo, na Petrobrás.

Nada se viu nas ruas e praças. Tudo caminha como se denúncia alguma tivesse sido feita. O que há, parafraseando aqui a presidente Dilma, é uma campanha de quem se coloca contra a empresa. Exigir que se investigassem as denúncias é, no dizer do governo e do PT, posicionar-se do lado oposto ao da Petrobrás; enquanto os que a sugam, a dilapidam, ou fazem dela um instrumento em prol dos interesses particulares são tidos os seus defensores.

Jogo de palavras que invertem a ordem das coisas e, consequentemente, torna mais nebuloso o ambiente. Compreende-se, então, a presença da presidente da Petrobrás no Congresso Nacional. Tal tática, somada a lenga-lenga do documento incompleto, agora reforçado pela “não vontade de querer enganar” a presidente do Conselho da empresa, no dizer de Nestor Cerveró, era esvaziar, como de fato esvaziou o discurso a favor da criação da CPI. O desânimo tomou conta de parte da oposição que, na verdade, pensava em fazer da comissão um instrumento de sangramento do governo. Pretensão sem êxito. E é, nesta hora, que se percebe a falta que faz um PT oposicionista, a despeito de todo o seu antigo discurso contrista – o de ser contra, sem ao menos saber a razão. Esse PT faz bem mais falta do que o PT governista. Tanto que por muito menos já se tinha passeatas, pichações e o “fora não se sabem quem”.

Situação contraditória. Mas, igualmente, reveladora. Revela a ausência de identidade do partido. Quando na oposição, ele cobrava ética, moralidade e transparência. No governo, este tripé é, sequer, lembrado. A ponto, por exemplo, de procurar de toda a maneira esconder as verdades dos fatos. Vale, agora, a verdade do governo e de seus defensores. Nunca os de quem se encontra fora desse círculo governamental. Rejeita-se, assim, a própria política, que é a arte de mediar conflitos, bem como o de alcançar desejos, graças à negociação. Prevalece, isto sim, aquilo que o governo entende ser o correto, à moda do coronel Borges, cuja política “não existe nos livros de Montesquieu, nem de Maquiavel; têm outros códigos, outras leis obedeciam. A política do coronel começava no subdelegado e acabava no coronel”. A política do governo começa no partido, passa pela base e termina no governo. Isso é triste!

Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br



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