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Sexta - 14 de Março de 2014 às 14:45
Por: Lourembergue Alves

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O estudioso da política é bem diferente do político. Este diz o que a população quer ouvir, e aquele, o que ela deveria ouvir e escutar. Isso explica o porquê jamais se deve esperar que o estudioso defendesse o candidato “A”, ou o “B”, ou o “C”. Tal assertiva, certamente, desaponta parte do eleitorado, cuja expectativa sempre é a de que todos devam tomar partido em uma campanha eleitoral. O estudioso não está incluído nestes “todos”. Mesmo que ele, à frente da urna eletrônica, assim como qualquer outro votante, também digita os números correspondentes aos candidatos escolhidos. Escolhas unicamente pessoal, particular - concernentes ao secreto. Diferentemente, portanto, das análises, avaliações e leituras do jogo eleitoral. Estas, sim, em hipótese alguma, deveriam permanecer no campo do privado. Ainda que alguém e/ou partido venha a ser beneficiado com elas. Causa, portanto, estranheza quando um missivista pergunta quem o estudioso está apoiando, a exemplo do autor de e-mail que chegou agora pouco a esta coluna.

Os textos aqui publicados, cabe dizer, nem de longe, estão associados a uma determinada cor partidária, muito menos trazem as palavras-chaves do discurso de um dado candidato. A fidelidade desta coluna é com os dados selecionados, com os resultados das pesquisas e com as reflexões sobre as movimentações no tablado da política. Tripé assentado sobre a argamassa da liberdade de expressão. A mesma liberdade que muitos tentam desqualificar, mas tem importância sem igual para a própria existência da política.

A política, aliás, só se articula com a liberdade quando existe o mundo público, o qual pode ser destruído pela intimidade do “Eu”. Pois este é a personificação da vida privada, que se contrapõe a vida pública, cuja jurisdição é o do “Nós”, uma vez que a produção deste nada tem a ver com a somatória do “Eu”.

Entende-se, agora, o porquê gera tanta confusão e prejuízos quando o público é transformado em extensão do privado. Transformação bastante comum no Brasil. Tão antiga que já se institucionalizou. Isso porque os que vivem da e para a política preferem o prático, e, nem tudo considerado prático, é o melhor, a exemplo do “caixa 2”, da fraude em licitação e do beneficiar aos amigos nas negociações entre o governo e as empresas, bem como o loteamento dos cargos da administração pública – das existentes e das que virão, independente de quem possa ser eleito.

Processo que não se reserva a apenas um ou outro gestor, nem a um ou a outro partido. E não precisa ser um Sherlock Holmes para identificá-lo no cenário político municipal, regional e estadual – no atual e no que virá com as eleições deste ano.

Isso, por sua vez, não destrói a pluralidade na política. Pluralidade que não tolera a tirania da individualidade. Tirania que deveria ser expurgada do campo do debate e das interpretações dos (e) leitores sobre as avaliações do estudioso do jogo político-eleitoral.

Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.


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