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Terça - 30 de Abril de 2013 às 19:34
Por: Lourembergue Alves

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Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta

No domingo passado, a última página deste caderno de A Gazeta trouxe uma longa entrevista com o governador do Estado. Este tipo de entrevista é sempre salutar. Necessária, inclusive, para o próprio chefe do poder de mando, que tem ou deveria fazer do espaço um instrumento de diálogo com o (e) leitor, o contribuinte e, enfim, o mato-grossense em geral. E, neste diálogo, entretanto, faltaram outras indagações também importantes, diria o ledor mais apressado. Talvez ele tenha razão, em especial quando se observa uma série de insatisfações, a qual pipoca ora na Capital ora no interior. Apesar disso, e até por conta dessa situação, o depoimento de Silval Barbosa é significativo. O que exigiria uma reflexão de profissionais variados, mas em particular do analista e do estudioso da política.

Reflexão que, por sua vez, obriga a retomada de alguns pontos levantados pelo governador. O primeiro deles: Mato Grosso é atípico, uma vez que “a concentração das riquezas está muito mais no interior do que na região metropolitana”, o que de certa forma deixa de estimular o crescimento dos demais municípios pertencentes ao Vale do Cuiabá, e esta não oxigenação, em contrapartida, traz prejuízo a Capital. Esta última frase, a sem aspas, não foi dita pelo peemedebista. Mas ele não estaria de todo errado, caso a tivesse dito. Pois, em outros momentos históricos, era bastante nítido o diálogo comercial entre Cuiabá e as localidades circunvizinhas. Alcir Lenharo, aliás, em um de seus trabalhos, fala disso com bastante clareza. Tanto que foi esta condição também de pólo comercial que levou Calaça, uma espécie de assessor do imperador Pedro II, a defender a ligação de Cuiabá ao Centro-Sul do país, via estrada de ferro. Tal ferrovia não saiu do papel, e isso, somado a sua perda de identidade e/ou limitada simplesmente ao papel de prestadora de serviços, tem retraído a Capital, e dificultado as coisas para toda a região onde ela própria está inserida. Região que muito necessita, entre outras coisas, da implementação do Canal do Manso, com o fim reoxigenar o crescimento de sua área rural.

Este cenário é realçado quando se percebe e analisa as desigualdades regionais. Até por conta do enfrentamento dessas desigualdades, são imprescindíveis as ações e as realizações. É neste sentido que se deve ater a mais um trecho da referida entrevista, onde o governador fala das obras, entre as quais as “rodoviárias”, a construção do Hospital Regional em Porto Alegre, a retomada do “Programa MT Integrado”, cujo objetivo é “o acesso por asfalto de todos os municípios a Cuiabá”, e as chamadas “obras da Copa”, que serão somadas “a duplicação das avenidas do Parque do Barbado”, da “Archimedes Pereira Lima” e da estrada que vai “para a Chapada dos Guimarães”.

O governador, no entanto, peca grosseiramente na divulgação de suas realizações, sobretudo as que vêm sendo feitas ou propostas para o interior. Até por conta disso, “sem querer”, ele provoca um acirramento de ânimos entre os demais municípios e a Capital. Acirramento agravado, e esta com a clara intenção, por algumas forças econômicas do Estado, que se valem deste “confronto” desnecessário para obterem seus ganhos individuais, particulares e grupais.

É isso, aliás, a única razão que leva a cúpula da Assembléia Legislativa a trombar com o governador. Resulta-se daí uma rápida suspeita de que se tem “dois chefes” da administração pública estadual. O que torna um problemão, pois coloca em xeque o papel do legítimo e legal, enquanto o outro, ilegítimo, ilegal e não oficial, aparece como “salvador municipalista”.

Equívoco que deveria ser resolvido. E bem, caso o governador se dispusesse a conversar com a população, soubesse divulgar melhor a imagem de seu governo e, mais ainda, planejasse de fato suas ações e obras. O seu cotidiano deixa isso com muita clareza, a despeito do governador dizer, na dita entrevista, que planejou a sua gestão. Não a planejou. Tanto que é a falta de planejamento que, aliás, provoca a “angústia” nas pessoas, não a “pressa” delas pelas obras, da qual fala o peemedebista.

Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.



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