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Quarta - 20 de Fevereiro de 2013 às 07:08
Por: Alexandre Garcia

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Alexandre Garcia é jornalista em Brasília
Alexandre Garcia é jornalista em Brasília

A loira com chapeuzinho Louis Vitton quase me empurrou para cima da prateleira da farmácia, forçando a passagem na força-bruta. Não ouvi da passante nenhuma das palavrinhas mágicas com licença, por favor, desculpe, obrigado. Do lado de fora da cabeça dela, uma griffe famosa. Do lado de dentro, uma caverna de neanderthal. O episódio me confirmou o quanto os pais estão deixando de dar bons modos aos filhos - talvez porque nem os pais os tenham. São criados como gado, que só sabe o básico, o que está no instinto: o lugar que tem sombra ou água, o coxo com sal, a hora e lugar da ordenha. Os seres sociais, gregários, inteligentes e racionais que vieram de 300 mil a 35 mil anos atrás, e foram se aperfeiçoando, se organizando, criando formas de respeitar uns aos outros, agora parecem estar fazendo o caminho de volta à caverna.

O escritor Ken Follet em Inverno do Mundo, conta que uma americana de Buffalo que foi para Londres tentar um encontro com o rei Eduardo VIII , estava sendo aceita pela sociedade inglesa, "embora segurasse o garfo com a mão direita". Fico me perguntando, nos restaurantes que freqüento, porque tantas pessoas não percebem que o garçom põe a faca do lado direito do prato e o garfo do lado esquerdo. Além disso, seguram os talheres como se estivessem empunhando uma pá ou um martelo. Com os cotovelos sobre a mesa e um palito enfiado nos dentes. Sem falar do ridículo chapeuzinho cobrindo a cabeça. Um despreparo completo para comer em outro lugar sem que seja uma manjedoura. Neanderthais na caverna.

A conversa foi abolida. Fala-se, agora, aos gritos, como se os interlocutores estivessem a dezenas de metros de distância. Argumenta-se aumentando o volume da voz ou emitindo grunhidos para expressar estados de espírito. Talvez seja a surdez provocada pelo excesso de barulho dos alto-falantes que ficam ligados em qualquer lugar onde as pessoas se aglomeram para conversar, dançar ou comer e beber. O barulho impede a fala e a audição. Por algum motivo sado-masoquista, comerciantes põem no alto-falante do estabelecimento ruídos de serra elétrica, martelo pneumático e britadeira, como se fosse uma grande reforma - que tem por resultado espantar clientes.

Com os dois pés na caverna, os pedestres das cidades de hoje não aprenderam a se movimentar. Andam na contramão nas calçadas, formam filas obstruindo a passagem, invadem as ruas fora das faixas de pedestre, atravessam com sinal fechado, param para conversar só em lugares aonde obstruem a passagem dos outros e, sempre que olho para um desses espécimes, eles cospem no chão, como faria um lhama mal-comportado. Suponho que faltou mãe e pai em casa, para ensinar essas coisas básicas para se viver em ambiente civilizado, onde se respeita e se é respeitado e todos vivem bem, sem precisar se proteger, numa farmácia, de loiras desgovernadas, com bonezinho Louis Vitton no topo da cabeça vazia.

Alexandre Garcia é jornalista em Brasília



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