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Terça - 05 de Fevereiro de 2013 às 18:55
Por: Alexandre Garcia

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Alexandre Garcia é jornalista em Brasília
Alexandre Garcia é jornalista em Brasília

Pessoas indignadas têm-me abordado na rua, exigindo que eu lidere, na TV, uma campanha por leis rígidas, que impeçam tragédias como a de Santa Maria. É cultura dos eleitores e dos que elegemos, imaginar que leis são capazes de mudar realidades. Tem sido assim neste país. Vejam a Lei da Ficha Limpa. Ela teria vindo para eliminar os corruptos da política. O Senado, que participou da aprovação da lei, vai eleger de novo Renan Calheiros para a presidência da Casa. Nós somos responsáveis por isso. Não apenas por elegermos quem não poderia ter mandato, mas também porque somos cúmplices, não apenas no voto, mas também no descumprimento das leis; no enfraquecimento delas.

A cada vez que desrespeitamos o pedestre na faixa, ou que ultrapassamos sinal vermelho, ou estacionamos em lugar proibido, estamos enfraquecendo a lei e a ordem. A mesma lei que teria que nos proteger, estará fraca quando dela precisarmos. Leis existem até demais, no país em que fazer lei dispensa o agir. Fazemos leis e descansamos sobre elas. Por acaso precisa de lei ou de fiscalização para que um dono de boate dê segurança àqueles que sustentam o seu negócio? Acaso precisa de lei para que o dono de uma boate abra saídas de emergência, não instale decoração inflamável, não admita superlotação e tome as cautelas devidas se algum show envolver fogo? O respeito aos clientes é uma questão moral básica, que vem bem antes e acima de qualquer lei. Mas aqui, neste país que não se escandaliza com 150 homicídios por dia todos os dias, isso pouco importa. Imagino que hoje, donos de boates já esperam uma fiscalização mais rigorosa por uns meses; mas sabem que depois tudo volta à mesma frouxidão incivilizada.

Roubaram 70, 80 anos de vida de jovens mas, para que a matança deixe pelo menos alguma lição, vale perguntar sobre segurança básica. Quando meus filhos estavam na escola, volta-e-meia eram submetidos a exercícios de como agir em emergências de fogo, vendaval, terremoto, bomba. Evacuação, como se proteger, para onde ir, como se portar. Eu pergunto: a escola de seus filhos faz isso? Onde você trabalha existe treinamento para emergências? O cinema avisa onde estão as portas de emergência; o avião também; o hotel tem mapas de saída para a escada de incêndio e aspersores de água no teto dos quartos. Existe isso nos locais de aglomeração que você ou seus filhos frequentam? Finalmente, uma pergunta óbvia com resposta mais óbvia: por que a maioria das boates no Brasil funciona em sub-solo, tem uma única saída e não é interditada pelas autoridades?

Alexandre Garcia é jornalista em Brasília



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