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Terça - 15 de Janeiro de 2013 às 21:17
Por: Lourembergue Alves

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Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta

Um livro jamais perde sua qualidade. Ainda que o ano de sua primeira edição tenha ficado lá atrás, e seu autor já não se encontra mais por aqui. Daí a diferença do clássico para a “literatura de consumo”, no dizer de Shopenhauer, a quem esta é passageira e aquela sobrevive à passagem dos tempos. Este é o caso, por exemplo, de “Exodus”, que nasceu do grande interesse de Leon Uris por temas de forte conteúdo social, e publicado pela vez primeira em 1958, cuja importância foi logo percebida, e é até agora reconhecida.

Seu autor, com uma linguagem simples, fiel ao estilo jornalístico, narra à história do navio “Exodus”, utilizado por judeus que fugiram do Holocausto, em 1947, para a Palestina. Mas as oitocentas e noventa e quatro páginas do livro não se resumem nisso, e nem deveriam, pois se abarcam a história do Estado de Israel, a qual é contada com tanta riqueza de informações e proporciona ao leitor um manancial de conhecimentos sobre os povos do Oriente Médio, bem como suas lutas e contrastes. Cenários que servem, por outro lado, para a situação ficcional, e este é um detalhe importante, de palco para as relações amorosas entre Ari Bem Canan e Kitty Fremont, Karen e Dov Landau, David e Jordana. Casais que sofrem com separações, incertezas e tensões. Inquietações, na verdade, do próprio Estado que estava sendo construído, cujas fronteiras sofriam ameaças dos árabes e o Canal de Suez era bloqueado pelos egípcios, com o fim de evitarem a entrada dos navios israelenses e de “barcos de outras nações que trouxessem carregamentos para Israel, em flagrante violação ao direito internacional”.

A Guerra de Libertação provocava derrota ao Egito e acarretou o problema dos refugiados árabes, com mais de meio milhão deles sendo obrigados a fugirem de suas casas na Palestina, em busca de refúgios nos países vizinhos.

Todos os envolvidos, judeus e não judeus, se viam orientados pelo signo do medo. O mesmo medo que fazia distanciar a paz entre eles. Paz necessária. Sobretudo em razão da luta dos judeus em voltarem à terra de seus antepassados e reconquistarem seus direitos à nacionalidade. Direitos obrigavam a divisão da Palestina, e para que esta fosse sancionada, seria necessária uma maioria de dois terços na Assembléia Geral das Nações Unidas, que se tornou um grande jogo de xadrez. Leon Uris conta como foi à votação de sexta-feira, 29 de novembro de 1947. A vitória judaica fora esmagadora. Embora não bastasse para garantir a independência do Estado judeu. Afinal, se fortalecia o “grito de morte aos judeus” nos lábios dos árabes, enquanto aqueles procuravam se entrincheirarem. Uma de suas trincheiras chegou a ser escavada junto às raízes de uma das árvores, e esta, desafiando a sua própria situação, tinha suas raízes a lutar obstinadamente, pois “passavam por sob a rocha, procurando um pouco de solo vivificador onde se fixar”. Luta que “simboliza”, no dizer de um dos personagens do livro em questão, o Dr. Lieberman, “a história dos judeus que voltaram à Palestina”. E ao chegarem à região, se alojavam também em kibutzim. Isso não apenas para garantirem a terra, mas igualmente se explica porque a música, poesia, arte, filósofos e os soldados vêm do kibutz ou do moshav.

Assim, Leon Uris parte das passagens históricas para construir sua narrativa, com o propósito de ilustrar a obra de ficção, cuja página final trata sobre a celebração do Pessach. “Passagem triunfal da escravidão para a liberdade”.

Ler ou reler Exodus é mais que um passatempo, ou de entretenimento. É uma viagem de aprendizado. Pois traz um retrato emocionante da volta dos judeus à sua terra natal. Ainda que a partir de uma narrativa ficcional, cujos personagens “são realistas e cativantes”. Vale à pena!

Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br. 



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