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Sexta - 13 de Abril de 2012 às 11:56
Por: Arilson da Silva

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O desenvolvimento econômico o qual o Brasil ganha destaque no cenário mundial traz consigo uma nova classe média e um maior poder aquisitivo para muitos brasileiros que antes não tinham sequer salário, muito menos uma conta bancária. Mas a realidade para muitos está mudando e mesmo com o aumento de clientes nos bancos do Brasil, o sistema financeiro continua excludente, preconceituoso e seletivo.

Neste início de ano, os bancos começam a apresentar a lucratividade do ano de 2011, com aumento nos índices de rentabilidade e competitividade a nível global. Todavia, a prática da responsabilidade social continua sendo mote de propagandas e não fazendo parte da realidade financeira.

Os bancos Bradesco, Santander, Safra, Caixa e Itaú já estampam seus lucros extraordinários do ano passado: o montante de R$11,19 bilhões é o resultado do Bradesco, o Santander comemora seus R$7,75 bilhões e o Safra acumulou R$ 1,25 bilhão. Muitos milhões estão por vir dos demais bancos. A Caixa Econômica Federal estampa R$ 5,2 bilhões, e o valor de R$14,6 bilhões é o resultado dos lucros do Itaú em 2011.

Mas, ao contrário do que muitos pensam, as melhorias para população e para os bancários, que são item fundamental na produção dos lucros recordes, não faz parte da lista de ações das instituições financeiras. A população continua sendo vista como fonte para o aumento de capital, é alvo de taxas e tarifas abusivas, é refém da insegurança e continua nas longas filas de espera para atendimento.

Sem falar na estratégia dos bancos em investir nos correspondentes bancários em supermercados, lojas e nos Correios para desafogar as agências, tirar os pobres dos bancos e sobrecarregar os trabalhadores que realizam os serviços bancários em outros estabelecimentos. A estratégia é justamente atender nas agências os clientes com maior poder aquisitivo enquanto os que tem rendas menores são deixados de lado.

Um outro sistema financeiro é possível sim, e é mais do que necessário, desde que as pessoas sejam a prioridade no processo de desenvolvimento do ramo financeiro. Bancários continuam sendo tratados como máquinas cuja função é produzir a todo custo, são vítimas de assédio moral diariamente, são amedrontados com a ameaça de demissão nos bancos privados e são alvos constantes de criminosos que atacam os bancos.

Os bancários tem que e mobilizar todos os anos com atos de protesto e greve para que direitos historicamente conquistados não sejam perdidos, enquanto isso, os bancos lucram bilhões. Enquanto trabalhadores somam doenças ocupacionais e estresse no ambiente de trabalho, os bancos somam ganância e egoísmo.

A prática da responsabilidade social é a porta de entrada para um sistema financeiro melhor para todos, não só para os banqueiros. A população merece ser bem atendida nas agências independente de quanto recebe mensalmente, os bancários merecem ser valorizados, a população merece ser prioridade.

Quando se vê na televisão uma propaganda de banco afirmando  que é o “banco dos juntos”, o primeiro impacto é sentido. Afinal, juntos como? Juntos se minha conta bancária for atrativa ou se eu tenho apenas uma conta salário? Juntos quando eu vou até uma agência de Cuiabá, por exemplo, e não tenho sequer proteção dentro do banco? O Santander enche o peito para divulgar que lucrou R$7,75 bilhões, mas quando o assunto é investimento em segurança, como a instalação de biombos, a conversa muda. Mesmo com a lucratividade em alta, não há biombos nas agências onde a lei determina a instalação. Sem falar nas medidas antissindicais que atemorizam os trabalhadores de todo país.

Há, mas também tem o banco que se diz ”feito para você”. É feito para que afinal? O Itaú é feito para os bancários que sofrem ameaças diárias de demissão e sofrem assédio moral no ambiente de trabalho. Ou o banco é feito para as pessoas que freqüentam agências que nem sequer tem porta giratória? O banco diz que tem responsabilidade social desta forma, e acha que pode convencer as pessoas com propagandas “meigas”.

Tem também o banco “presença – lado a lado”. O Bradesco vem com este slogan enquanto acumula R$11,19 bilhões em 2011 e mantêm agências com pouca segurança, longas filas pela falta de contratação e ainda diz que está lado a lado com o cliente. A questão é saber que lado é esse.

Já o HSBC se diz um banco “múltiplo”. Só se for múltiplo em práticas antissindicais, em assédio moral, em metas abusivas para os trabalhadores. Essa deve ser sua multiplicidade. Tem também o banco “todo seu” e se diz ser “do Brasil”. O Banco do Brasil, além de não ser de quem deveria, do povo, o banco ainda insiste em não aumentar as contratações e o aumento de agências, insiste em não respeitar seus funcionários e ainda faz com que a população de baixa renda deixe de freqüentar os bancos e passem a realizar suas transações bancárias em correspondentes bancários ou pela internet.

Já a Caixa vem com um slogan interessante, porém incoerente. “A vida pede mais que um banco”, realmente a vida pede mais que um banco, a população pede mais que um banco, os bancários pedem mais que um banco, mas a Caixa continua sendo um banco com o modelo da mais valia, do acúmulo de lucros e deixa as pessoas como segundo plano.

O Banco da Amazônia afirma que está “ Movimentando a Amazônia e a sua vida”. Para os que não sabem, o Banco da Amazônia foi o último a apresentar proposta para os funcionários nesta última campanha salarial e pouco tem contribuído para o desenvolvimento da região da Amazônia. Foram mais de 70 dias de greve. Esta é a movimentação na vida das pessoas?

Precisamos de um sistema financeiro que contribua para o crescimento econômico com distribuição de renda, oferecendo a sociedade mato-grossense crédito mais barato para que o pequeno produtor, a indústria ou o comércio possam crescer. Esse é o papel dos bancos: oferecer crédito acessível para financiar o desenvolvimento e a criação de emprego e renda para todos.

É preciso romper as barreiras e criar um novo sistema financeiro no nosso país. Pode acreditar, um outro sistema financeiro é possível e necessário.

*Arilson da Silva é presidente do  Sindicato dos Bancários de Mato Grosso (SEEB-MT)




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