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Segunda - 26 de Março de 2012 às 06:20
Por: Lourembergue Alves

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Cada vez mais, pessoas perguntam a si mesmas “se, de fato, o crime não compensa”. Preocupação relevante. Não porque elas pretendem engrossar as fileiras dos criminosos. Nada disso. Mas em razão do crescente índice da impunidade no país. Tal percentagem se torna mais alarmante no exato instante que se passa os olhos sobre o interior das prisões. Nestas, aliás, estranhamente, inexiste a figura conhecida como colarinho branco.  “Isso é revoltante”, diria o leitor, uma vez que “soa como agressão”, completaria outro. Pois, enquanto isso, e, sobretudo, em função dessa façanha, obras deixam de ser realizadas e a maioria da população continua desassistida.

Situação que agrava o quadro de necessidades. Ampliado pela negligência e a insensibilidade dos administradores públicos, bem como pela ausência de planejamento e pela falta de compromisso de muitos dos integrantes das Casas Legislativas, que abrem mão da tarefa de fiscalizar em troca de benesses que do poder emanam.

Explica-se, portanto, o forte traço do corporativismo. Isso fica patente quando se percebe a dificuldade que um parlamentar tem em investigar o colega, e mais ainda em puni-lo. Por isso, e não sem razão, a maioria das CPIs se transforma em pizza, cujo sabor é de complicada digestão. Até em razão da fatura, que sempre chega “salgada” ao contribuinte.

Isso é triste. Bem mais quando se sabe que uma dada denúncia foi completamente apurada, porém o denunciado – transformado em réu – jamais chega a ser punido. Pois a sua disposição estará, sempre, a habilidade de um profissional, que tudo fará para empurrar mais e mais a frente à tão esperada sentença, até mesmo o crime prescrever. Proeza também impulsionada pela morosidade dos tribunais.

Retrato de um país à deriva, apesar da estabilidade da economia e de avanços naquilo que se convencionou chamar de Estado democrático e de direito. Embora tenha pela frente a trava da impunidade. O que contribui, enormemente, para a corrupção. As denúncias pipocam quase mensalmente. Recentemente, por exemplo, se soube que o patrimônio de um ex-secretário de Estado cresceu astronomicamente, e as vacas da fazenda de outro “ex” desafiaram a genética, pois pariam doze vezes ao ano; enquanto filhos de autoridades se destacavam no ramo empresarial, e, diante da publicação de certas acusações, políticos se vêem forçados a deixar ou o ministério ou a secretaria. Mas o dinheiro desviado jamais retorna para os cofres públicos.

Aliás, anos atrás, chegou-se a conclusão que um determinado juiz havia desviado para suas contas bancárias a grana destinada a construção de um prédio público. O juiz foi “pego”, mas a referida grana desapareceu como por encanto, assim como muitas outras “somem”. Sobretudo porque inexiste uma ação efetiva para reavê-las, menos ainda a cobrança ou o “confisco de bens”, em nome dos colarinhos brancos, para cobrir os desfalques por eles planejados e efetuados.

Assim, esses senhores levam uma vida de reis. Ainda que estejam fora dos cargos e até sem poder. Porém jamais “sem proventos” e/ou sem dinheiro.

Daí cada vez mais se ouve, tanto nos botequins quanto no local de trabalho, a questão que intitula este texto. E não é para menos. Principalmente quando se leva em consideração as regalias, o foro privilegiado e os privilégios dos que são chamados de colarinho branco.

Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.



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