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Segunda - 05 de Março de 2012 às 05:40
Por: Alexandre Garcia

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Alexandre Garcia é jornalista em Brasília
Alexandre Garcia é jornalista em Brasília

Chovia na BR 101, litoral norte do Rio Grande do Sul, e o pequeno Clio entrou na pista contrária e bateu de frente com um caminhão cargueiro. Uma tragédia familiar rotineira no Brasil: morreram o casal e os três filhos, inclusive o bebê. Na boléia do caminhão, apenas alguns ferimentos no motorista, que não teve como evitar o choque.

Quando era presidente da ANFAVEA, o ex-presidente da Fiat, Silvano Valentino, desabafou, enquanto eu lhe dava uma carona em Brasília: "Não entendo vocês, brasileiros. O valor da vida humana vale pelo preço que se pode pagar por um automóvel." E dava como exemplo extremo o fato de o carro popular da época não ter nem o regulador de altura dos cintos dianteiros, que custava 1 real e cinquenta centavos. Hoje os populares continuam sem airbag, ABS, controle de tração e têm um torque ridículo que não lhes permitiria sair da frente de um veiculo pesado que tenha perdido os freios numa descida.

Como esses pequenos e inseguros são maioria nas estradas, cada vez que há um choque com um caminhão, Há morte certa e ferimentos gravíssimos. De alguma forma, uma responsabilidade que os fabricantes dos carrinhos pouco seguros transferem para os motoristas de caminhão e as transportadoras. Como sugeria Silvano Valentino, alguns reais são mais importantes para as montadoras que a vida das famílias que compram seus carros. Quem sabe o governo federal, que aplica dinheiro em campanhas de trânsito, não abriria mão de parte dos altíssimos impostos para subsidiar mais segurança para os carros populares? Afinal, airbag e ABS é o que não falta em carros populares na Europa, Japão ou Estados Unidos. Aqui, como constatou o ex-presidente da ANFAVEA, a vida vale menos.

É claro que nada substitui a habilidade, a atenção, a prevenção ao volante. Mas se o carro - e as estradas - ajudarem, vamos ter menos matança. Hoje é certamente um genocídio: cerca de 200 mortes por dia, todos os dias. Uma pena que nós, jornalistas, minimizemos o trânsito desastroso, dando estatísticas apenas parciais, como a das estradas federais no carnaval, omitindo as estaduais, as municipais e as vias urbanas, assim como os que morrem nos hospitais dias depois do acidente. E é bom lembrar que os grandes são responsáveis pelos pequenos desprotegidos - é lei do trânsito(art.29, XII, §2º) e lei natural.



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