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Quarta - 22 de Fevereiro de 2012 às 13:09
Por: Lourembergue Alves

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É carnaval. O cenário mudou, e tudo se transformou em folia e alegria. Há, portanto, outro signo. Bem distinto do que se tinha. Pelo menos até quarta-feira. Quando aí as coisas retornarão ao seu lugar costumeiro. Voltam, então, à correria cotidiana e as dificuldades de sempre. O desejo que se tem é que a magia de Momo perdure um pouco mais. Se bem que, mesmo com o presente conturbado, tem gente que passa por alguém diferente do que de fato seja, e faz questão de “vender” a imagem de uma vida que, na realidade, não tem. Assim, torna o faz de conta um estado permanente.

A fotografia revelada parece, portanto, ter saído de outro negativo. Nada tem a ver com o original. Pois este desapareceu como por encanto. Mas, isto pouco importa. Afinal, o clima é de magia. Magia do pobre se fazer de rico, e este se passa por um pobretão, enquanto a classe média se reforça toda, com a chegada de milhões que antes pertenciam ao andar de baixo. Nesse vai e vêm quase ritmado, as luzes da ribalta se fazem presentes, ao mesmo tempo em que “ratos e urubus” dividem entre si a fantasia “roubada” e o “lixo” substitui a riqueza na passarela. A platéia foi ao delírio. Não sem antes se surpreender com o Cristo Redentor mendigo. O carnavalesco, então, se dá por satisfeito. Sai de cena. Porém, a batida continua presente, a animar outros foliões.

Ainda que lá fora, do lado oposto, a realidade é também desenhada pela crise na saúde, na educação, na segurança pública. Desenhada com a tinta da corrupção. A mesma que faz o retrato ministerial mudar de cara. Mudou. Mas não por conta da faxina – tão badalada. Embora a mídia teime em afirmar o contrário. “O que se há de fazer”, diz a letra de certa melodia. Agora pode com a Lei Ficha Limpa em ação, e a ser adotada igualmente pelas administrações públicas.

“Sonhar é preciso”. Inicia, assim, o enredo da Mocidade Independente. “Sonhar”. Ainda que diante da morosidade do Judiciário. Uma demora que beneficia o infrator e traz enorme prejuízo a sociedade. Esta “samba” nas mãos do representante relapso e do gestor insensível. Daí o refugiar-se na ilusão de que um dia, o atual estágio de coisas erradas desapareça de vez. Crença que se fez adiada porque a agremiação partidária que dizia empunhar a ética como bandeira se desfez nos salões do poder e enrolou-se quase toda no mensalão de 2005.

Mensalão que está previsto para ser julgado neste ano. É bom não acreditar piamente nisso. Sobretudo de que haverá alguém punido. Pois o enredo de inocência há muito, substituiu a cantilena sensacionalista da imprensa e deixou para traz o “nada ver”, bem como o “nada saber”. Não demorará tempo para que os membros do tribunal também comecem a cantarolar o dito samba-enredo, enquanto políticos fichas sujas desfilem fantasiados de probos, a mostrarem o “certificado de nada consta”.

Afinal, tudo é carnaval. Este é o único momento de irrealidade. Capaz de fazer com as pessoas fujam do cotidiano, das coisas comuns, do irreal. Antes que o calendário anuncie a chegada da quarta-feira de cinzas. Término do faz de conta. Isso fará com que a fotografia revele outro fotografado – o verdadeiro.

Lourembergue Alves é professor universitário, analista político e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.



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