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Domingo - 28 de Agosto de 2011 às 21:48
Por: Onofre Ribeiro

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Onofre Ribeiro é jornalista em Cuiabá e secretário adjunto de Comunicação Social de Mato Grosso
Onofre Ribeiro é jornalista em Cuiabá e secretário adjunto de Comunicação Social de Mato Grosso
Gostaria de trazer à discussão um fato que aparenta corriqueiro, mas é de profunda gravidade. Os nossos filhos não têm pouco conhecimento e ligação com as experiências e com o passado dos seus pais. Vou explicar isso melhor abaixo.

No mês passado, tive a oportunidade de atuar como moderador num debate promovido pela Associação dos Criadores de Mato Grosso - Acrimat, com os três senadores do estado, e o professor Luis Carlos Silva Souza, parceiro do deputado Aldo Rebelo na elaboração do projeto do Código Florestal, empresários rurais, parlamentares e representantes de instituições classistas, para melhor se conhecer o assunto tão polêmico.

Após a palestra super elucidativa do palestrante, cada senador fez uma avaliação do tema e se posicionou. Após, abriu-se o debate para os empresários, que podiam perguntar ao palestrante ou a qualquer dos senadores.

Nesse intervalo, apareceram na plateia vários estudantes universitários, com ânimos exaltados em relação ao assunto Código Florestal. Fizeram perguntas e, obviamente, no seu papel, incendiaram o debate. Deu-se o confronto de posições e os ânimos esquentaram bastante. De um lado, os empresários defendendo o seu papel de produtores de alimentos e o seu compromisso com o uso da terra e com a preservação ambiental. De outro, os estudantes acusando-os de serem criminosos sociais e ambientais. Não precisa dizer o calor da discussão nessa altura do debate.

Finalmente, com os ânimos mais calmos, o palestrante Luis Carlos enquadrou as posições de todos com uma análise simples e verdadeira. Reconheceu o papel contestador dos estudantes como legítimo e necessário, e dos produtores, também, como legítimo e necessário. Porém, o pecado do radicalismo dos estudantes não era por culpa deles.

A culpa dos estudantes naquele momento, e fora dali, dos nossos filhos e descendentes não compreenderem que o leite não nasce no supermercado, assim como o arroz, o feijão, a carne, a cerveja, o suco, o refrigerante, etc.etc., não é deles. É dos adultos que não foram capazes de dizer-lhes que a maioria dos seus pais são oriundos da terra, ou são descendentes de pais e avós roceiros. O Brasil até 1970 era predominantemente rural. Raras famílias atuais não tem, ainda, um pé no campo.

Nós não fomos capazes de ensinar aos nossos descendentes que a tudo que se come e quase tudo que se bebe, é produzido dentro de um sistema econômico rural e depois urbano-industrial, utilizando matérias-primas extraídas da terra, cultivadas ou criadas por mãos humanas. E, se os jovens, até mesmo os universitários, continuarem com essa visão estreita de inimizade, quem produzirá a comida quando forem eles os adultos empreendedores?

Do mesmo modo que no Código Florestal, não conseguimos ensinar muito aos nossos filhos sobre as suas raízes. O mundo deles será tecnológico, todos sabemos. Mas onde buscarão o lado humano pra viver? Ainda estou refletindo sobre o assunto.

Onofre Ribeiro é jornalista em Cuiabá e secretário adjunto de Comunicação Social de Mato Grosso



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