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Quarta - 09 de Março de 2011 às 07:02
Por: Alexandre Garcia

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Alexandre Garcia é jornalista em Brasília e escreve às terças-feiras em A Gazeta
Alexandre Garcia é jornalista em Brasília e escreve às terças-feiras em A Gazeta

Na falta de assunto em semana de Carnaval, quero reclamar do preconceito que se têm contra línguas que não sejam o inglês. Lembrei-me disso ao ouvir meus colegas pronunciando o sobrenome do atropelador de ciclistas em Porto Alegre, o bancário Ricardo Neiss. Ora, o sobrenome dele é alemão, portanto a pronúncia do sobrenome é náiss. E demonstro o preconceito argumentando que se ele tivesse sobrenome inglês, como Ricardo Baker, por exemplo, pronunciariam bêiker e não báquer.

Minha empresa se chama Mercury e volta e meia temos que atender a telefonemas para o Hotel Mercure. Como o hotel é da rede Accord, francesa, o nome dele se pronuncia Mercüre - com aquele som francês do u igual ao ü tremado do alemão - mas até as telefonistas do próprio hotel atendem como se estivessem numa rede americana, pronunciando Mércury. Até o hotel de um pernambucano ganhou pronúncia inglesa. O Othon Bezerra de Mello ergueu um belo hotel em Copacabana, que virou Óthon em vez de Othon nordestino. Na mesma Copacabana havia o imponente francês Meridien (Meridiã) que os tupiniquins e tamoios passaram a chamar de Merídien.

Aqui na capital do país, a francesa Leroy Merlin abriu uma grande loja de material de construção - e ninguém a chama de Leroá Merlã. Por algum motivo desconhecido, os dubladores de programas na TV por assinatura chamam os aviões alemães Junkers de djânkers, valha-me Deus, como se fossem ingleses ou americanos, justamente os inimigos dos Junkers. E os alemães inventaram os bunkers, mas meus coleguinhas insistem em pensar que a palavra é inglesa, e pronunciam bânkers. Por que se recusam a pronunciar o alemão e o francês e pensam que tudo tem o som inglês? Não consigo entender.

Antes da Segunda Guerra, era chique - ou chic - o francês. A gente flanava pelos bulevares para observar o aplomb das mademoiselles. Agora, o inglês impera. Fazemos o footing no shopping. Mas até na mania do anglicismo a gente tropeça. Boa parte das pessoas consegue tornar um monstro bilíngue uma palavrinha muito usada: e-.mail. A pronúncia é i.mêil. Mas muita gente boa pronuncia ê.mêil. A palavrinha virou Frankenstein (pronuncia-se Frankenshtáin).

Alexandre Garcia é jornalista em Brasília e escreve às terças-feiras em A Gazeta. E-mail: alexgar@terra.com.br


 


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