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Terça - 22 de Fevereiro de 2011 às 12:27
Por: Lourembergue Alves

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Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta

Mudança ocorre com todas as pessoas, e em todos os instantes. Nem todas elas, entretanto, têm a coragem de deixar a vida que levam por outra, bastante distinta. Raras, portanto, fariam como Raimund Gregorius. Um professor de línguas clássicas em Berna, que abandona a estabilidade que possuía, a rotina organizada e quarenta anos de atividade, quase ininterrupta, e pega o "trem noturno para Lisboa", deixando para traz sua sala de aula e seus alunos.

Trata-se de um livro fantástico. Seu autor, Pascal Mercier - pseudônimo de Peter Bieri - superou os próprios limites, com uma história impressionante, cujo protagonista deu novo rumo a sua existência. Dois episódios lhe motivaram a fazer isso. O primeiro deles ocorreu quando se encontrava a caminho do local de trabalho e "deu de cara", sobre a ponte, com uma "desconhecida", bastante aflita ao ler a carta que trazia as mãos, e, ao ver Gregorius, tratou logo de se desfazer da dita correspondência. A mulher parecia ter a intenção de dar cabo a sua vida. Ele, então, se aproximou com fim de demovê-la desse propósito. Foi aí que se sentiu atraído pela sonoridade do português de Portugal. Interessado, buscou material a respeito desse idioma, cuja procura o levou ao livro do lusitano Amadeu do Prado - obra que apresenta reflexões sobre as múltiplas experiências humanas: solidão, morte, amizade, amor e lealdade.

Fascinado pelo que lia, Gregorius resolveu pesquisar sobre o referido português. Eis, aqui, a segunda razão - a principal - que o fizera mudar completamente.

Apesar das dúvidas que ainda sentia, e a indecisão que lhe era muitíssimo forte, resolveu se "livrar" da tranquilidade proporcionada pelo emprego que tinha, e viajar para Lisboa. Atravessou a cidade, e nessa travessia, encontrou pessoas que conheceram Prado e que lhe contam detalhes sobre ele.

Aos poucos, Gregorius consegue construir a imagem de um poeta admirado e médico muito popular. Pelo menos até o dia em que salvou a vida de um oficial da polícia secreta. A partir de então, as pessoas que o admiravam passaram a evitá-lo. Situação que o levou a trabalhar para a oposição clandestina. Mesmo assim, não conseguira reconquistar a popularidade. Porém, deixou a mostra um homem inquieto e capaz de desafiar as adversidades que lhe apareciam pela frente.

Diferentemente, portanto, de Gregorius que, influenciado pelos escritos do médico e poeta português, deu uma nova direção a sua vida.

À medida que as páginas vão se abrindo, o leitor fica mais e mais fascinado pelo que elas apresentam. Trata-se de uma narrativa impressionante, a qual traz à discussão as dificuldades humanas. Dificuldades enraizadas no cotidiano, e, por conta disso, merecedoras de reflexão. A leitura do livro em questão pode impulsionar isso. Afinal, "trem noturno para Lisboa" é uma expressão que passou a ser usada por alguém que pretende mudar de vida.

Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: lou.alves@uol.com.br


 


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