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Terça - 15 de Fevereiro de 2011 às 16:38
Por: Lourembergue Alves

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Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta

Outro dia, sentada logo à primeira fila da sala de aula, uma jovem folheava cuidadosamente as páginas do livro. Volta e meia, seus olhos paravam em determinado trecho, o qual era demarcado com uma caneta apropriada. O professor, então, aproximou-se, e, antes que dissesse qualquer coisa - uma reclamação, por exemplo - a moça mostrou a capa do que estava lendo. "Muito bom", murmurou ele. Sem titubear, a moça respondeu que a política é uma de suas grandes paixões. "Sou tucana de carteirinha", acrescentou, e, antecipando, disparou a falar. Falou de suas experiências como integrante da "Juventude do PSDB", suas participações nos encontros e, também, de suas frustrações. Particularmente as concernentes as derrotas dos candidatos de seu partido na última eleição, entre elas a de Arthur Virgílio, no Amazonas. Frustrações que se estendia à atual situação do "ninho" em Mato Grosso. "Aqui, as pessoas só pensam em cargos, nelas próprias e não na agremiação".

O semblante da jovem era outro. Bastante diferente daquele do início da conversa. Retrato não só dela, mas da maioria dos filiados que se entusiasmou com a chegada do ex-governador Dante de Oliveira à sigla, bem como ao bom governo do sociólogo Fernando Henrique Cardoso.

Passagens, no entanto, que se viram apagadas "com a incapacidade das lideranças peessedebistas em fazer das boas ações da gestão FHC em trunfos de campanha". Prosseguia a jovem: Esses líderes "não foram, sequer, grandes suficientes para reconhecerem os erros cometidos" - afinal, administração alguma está livre de errar - "e fazer destes mesmos desacertos lições importantes para um novo projeto". Pois até nisso, no entanto, pecaram. "Pecaram", dizia ela, "porque, igualmente, não souberam" - como ainda hoje não sabem - "autorreorganizar, juntarem os cacos", e, a partir de então, "construírem outro discurso", cuja ausência transforma o PSDB em um partido nanico.

Aliás, por conta de tudo isso, e somado aos desentendimentos internos, ocorreram às derrotas político-eleitorais seguidas para a presidência da República. Derrotas que se repetiram, inclusive, para o governo do Estado de Mato Grosso.

Derrotas que reduziram o tucanato mato-grossense a um papel secundário no tablado de xadrez da política regional. Papel ainda mais transfigurado com o falecimento de sua maior liderança no Estado. Tanto que nem mesmo o estar à frente da chefia da administração da Capital - o maior colégio eleitoral da região e a sua grande vitrine política - livrou o candidato tucano de amargar o terceiro lugar nas eleições de 2010.

A moça lembrava a tudo sem esconder sua tristeza. Vez ou outra deixava seus olhos escorregarem pelas "Cartas a um jovem político", de Fernando Henrique Cardoso, e, ainda senhora de si, estaria a pensar de que antes da proposição da "construção do país" - parte do subtítulo do referido livro - seria primeiro necessário reconstruir o próprio partido - todo em frangalhos.

Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: lou.alves@uol.com.br


 


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