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Terça - 01 de Fevereiro de 2011 às 14:21
Por: Alexandre Garcia

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Alexandre Garcia é jornalista em Brasília e escreve em A Gazeta às terças-feiras
Alexandre Garcia é jornalista em Brasília e escreve em A Gazeta às terças-feiras

Na última vez em que estive no Egito, um guarda de farda branca sorriu e perguntou se queríamos tirar fotografias. Estava instruído a tratar bem os turistas, depois da matança em Karnak. Ofereceu o AK-47 para meu filho segurar, enquanto posavam para a foto. Perguntei se o fuzil estava carregado. Ele respondeu que precisava estar municiado para atirar em quem fizesse mal a algum turista. E que tinha ordens de esmagar com a coronha a mão de quem furtasse estrangeiro. O uniforme branco é para parecer bonzinho. Foi essa polícia que já matou o dobro do que se anuncia, nas manifestações contra Mubarak.

Mubarak não deve se aguentar. Meus amigos por lá garantem que a mulher e a filha dele já estão em Londres. O Egito sonha por democracia, embora os turistas nem notem a ditadura, a não ser pelo culto à personalidade, característico dos totalitários: há imensos cartazes com a foto oficial de Mubarak por toda parte. Quando tiraram o rei Farouk, em 1951, logo apareceu o Coronel Nasser, que nacionalizou o Canal de Suez, criou o pan-arabismo e tentou invadir Israel. Morto Nasser, veio Sadat, em 1970, e aproximou o Egito dos Estados Unidos e fez paz com Israel. Sadat foi metralhado numa parada militar em 1981, quando Mubarak assumiu o poder.

Agora parece que sopram vendavais contra ditadores da região. O da Tunísia caiu depois de revoltas populares que inspiraram os egípcios. O tunisino estava no poder há 30 anos. O coronel Khadafi é o ditador da Líbia há 40 anos. A África é carente de democracia; são poucos os países que elegem seus governantes, como a África do Sul. São reinados, chefes tribais, ditadores civis e militares. No Oriente Médio não é diferente. Talvez a única exceção seja Israel. São reinados, emirados, sultanatos, ditadores com dinastia, como o da Síria, que deixou o poder para o filho.

Por isso, são bem-vindos os ventos da democracia. Desde que não se transformem em tempestades totalitárias. Quando derrubaram o Xá do Irã, não se imaginava que viria a autocracia religiosa dos aiatolás, assim como aqui pela América, a ditadura do sargento Fulgêncio Batista resultou na ditadura do comandante Castro, o mais antigo ditador do mundo, com já 52 anos de poder e ausência de liberdade política para o povo cubano. Daí os temores no Egito. Virão fundamentalistas muçulmanos em lugar do ditador Mubarak? A seita sunita, majoritária no Egito, não se afina com os xiítas do Irã, mas nunca se sabe se é mais forte o que os separa ou os que os une: a destruição de Israel. Um dos berços da civilização ainda está gerando algo, mas não se sabe o que vai nascer.

Alexandre Garcia é jornalista em Brasília e escreve em A Gazeta às terças-feiras. E-mail: alexgar@terra.com.br




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