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Quinta - 27 de Janeiro de 2011 às 15:09
Por: Alfredo da Mota Menezes

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Alfredo da Mota Menezes escreve em A Gazeta aos domingos, terças e quintas-feiras
Alfredo da Mota Menezes escreve em A Gazeta aos domingos, terças e quintas-feiras

No início das novas administrações públicas escasseiam os assuntos políticos. Buscam-se outros. Um tema me foi dado pelo fotógrafo Wes Syposz, polonês naturalizado canadense que mora em Cuiabá.

Ele já tem dois livros publicados: um com fotos do Pantanal, outro da Chapada. Está trabalhando em outros dois. Um sobre o exato momento da mudança da arquitetura de Cuiabá de colonial para, digamos, mais moderna. Influência do surgimento de Brasília. Outro sobre o que ele chama de "Cuiabá abandonada". Em suas andanças em busca dessa Cuiabá deu-me uma foto que machuca a história local.

A foto são as placas do cruzamento da avenida Generoso Ponce com a rua Joaquim Murtinho. Mas está escrito na placa, em letras bonitas e grandes, Joaquim Mortinho.

Um estrangeiro, já com ligações nesta cidade, é que levantou o equívoco histórico. Grafar Mortinho em lugar de Murtinho é mexer com a história.

Joaquim Murtinho, além de empresário e homem de finanças, foi o maior político que MT teve. E hoje o estão matando até nas ruas da cidade onde nasceu em 1848. Filho de um médico e militar baiano com uma cuiabana foi para o Rio com 13 anos de idade para estudar. Formou-se em engenharia civil e, mais tarde, em medicina. Olha o que foi o Murtinho no Brasil da época.

Foi senador por Mato Grosso por três mandatos entre 1890-1911, ano de sua morte. Foi ministro de Viação, Indústria e Comércio (1896-97). Entre 1898-1902, no governo Campos Sales, foi ministro da Fazenda. Saneou as finanças públicas, é um dos nomes mais festejados desse ministério até hoje. Foi ainda vice-presidente do Senado.

Foi dono do Banco Rio e Mato Grosso. Um dos donos também da maior empresa do estado no período, a Mate-Laranjeira, que trabalhava a erva-mate no hoje Mato Grosso do Sul. Porto Murtinho foi fundada em sua homenagem e o porto da cidade era para transportar erva mate para ser industrializada na Argentina e vendida para os países do Prata.

Na política de Mato Grosso tirava e punha governos (incluindo o do seu irmão, Manuel, que mais tarde, com apoio do irmão famoso, foi ministro do STF). Joaquim Murtinho ganhou as três "revoluções" que o estado passou em 1892, 1899 e a de 1906, em que perdeu a vida seu ex-aliado e depois adversário, Totó Paes.

É um personagem histórico de prestígio nacional. Agora, na sua cidade, mudaram seu nome para "Mortinho". Tenha a santa paciência.

Parece-me outro caso em que um procurador da República, fazendo chacota e trocadilho, dizia que a construção do porto de Morrinhos no rio Paraguai, que daria mais força à hidrovia naquele rio, estava "Mortinho". A Justiça, fazendo ou não justiça, o matava antes de qualquer julgamento. Coisas de Mato Grosso.

Alfredo da Mota Menezes escreve em A Gazeta aos domingos, terças e quintas-feiras. E-mail: pox@terra.com.br; site: www.alfredomenezes.com


 


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