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Terça - 23 de Novembro de 2010 às 13:58
Por: Lourembergue Alves

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Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas

Mais um ano caminha para o seu final. Tem-se a impressão de que o tempo está cada vez mais rápido. Os ponteiros de seu relógio não rodam, voam, e voam sem dar a mínima para ninguém. Mal dá para realizar as tarefas básicas. Assim, sonhos são adiados e desejos empurrados para 2011.

Acontece, porém, que para o vindouro, o elenco das coisas a ser realizadas já ultrapassa a meia dúzia de páginas. Ainda cabe no velho caderninho, jogado a um canto de uma das gavetas da escrivaninha. Porém, não se sabe se os 365 dias que virão serão o bastante para realizar cada uma delas.

Talvez, nem deem para realizar a metade do que ora se planeja. Mas a lista de vontades continua a crescer. Muitas delas, curiosamente, foram apenas renovadas. Mudadas simplesmente de páginas, sem que houvesse tentativa alguma de lutar por elas.

Afinal, não se tem tempo. Esta é a desculpa utilizada. Sob o batuque de que a correria diária impede de se ter, ao menos, um momento de folga. Tanto que não se come mais, engole-se, e esse engolir ocorre de forma que atropela o mastigar propriamente dito, sem o qual dificulta a própria digestão.

Isso prejudica o viver. Pois inexiste uma vida saudável com a pressa ao se alimentar. Nem mesmo o lanche, feito no barzinho da esquina, é digerido conforme manda o figurino. Na verdade, empurra-se goela abaixo, valendo-se de goles de refrigerantes. Resulta daí uma série de danos. O que leva às idas permanentes aos consultórios médicos e o corre-corre desenfreado as balanças expostas nas drogarias. Pois, de uns tempos para cá, o cansaço se mostra frequente. Certamente em razão das gordurinhas que se alastram por diversas localidades do corpo.

Corpo que não é mais o mesmo dos bons tempos, quando se tinha quinze anos, e não importavam as subidas. Subiam-se os morros da mesma forma quando os desciam.

Bons tempos aqueles! Lá se vão vinte, trinta anos. Décadas que se juntam e se entrelaçam, deixando amostras as rugas, que sinalizam todo o rosto. As pomadas e os cremes escondem as tais rugas. Porém não as movem, nem as evitam. Daí a opção por um botox. Mas este, contudo, tem data de validade. Resta a plástica, a qual escamoteia os traços desenhados pelo tempo, no entanto, não elimina os anos vividos, nem acende o sinal vermelho - obrigando a parar.

Não é hora de parar. Corre-se, inclusive, nos dias derradeiros do ano. Isso impede que se dê uma olhada nos antigos cadernos, jogados a um dado canto da mesa, onde constavam, inclusive, "mais tempo com os filhos". Ah! Os filhos. Eles cresceram, e os pais, do outro lado, sequer, tiveram a curiosidade de vê-los desenvolver.

Hoje, nessa altura do ano, uma vez mais se faz planos para o ano vindouro. Planos que jamais serão postos em práticas.

Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: lou.alves@uol.com.br


 


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