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Quinta - 04 de Novembro de 2010 às 17:34
Por: WILSON CARLOS FUÁ

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Wilson Carlos Fuá é economista, Ouvidor Geral da SINFRA/MT e ex-Jogador do Mixto
Wilson Carlos Fuá é economista, Ouvidor Geral da SINFRA/MT e ex-Jogador do Mixto

A Copa do Mundo será o maior evento futebolístico a ser realizado em Cuiabá, e diante dos investimentos financeiros a serem aplicados em infraestrutura_ construção da Arena de Múltiplo Uso Verdão, Centros de Treinamentos e Mobilidades Urbanas_, com certeza transformará Cuiabá em uma grande metrópole.

Mais importante para os cuiabanos será o legado que ficará com a construção das obras de mobilidade urbana e muito mais para o futebol cuiabano, será com certeza as construções dos Centros de Treinamentos, até mais importante que a construção da Arena de Múltiplo Uso – Verdão, depois vou dizer porque.

As construções das obras de mobilidade urbana darão para Cuiabá, uma nova engenharia de trânsito com estruturação moderna, desafogando o trânsito, dando um melhor conforto a todos os moradores que necessitam deslocar-se dentro do perímetro urbano, e dará uma folga de pelo menos vinte anos para projetar uma nova Cuiabá, talvez construindo uma nova perimetral, essa obra é fundamental para todos nós que já vivemos esses congestionamentos em todas as vias de escoamento rápido, a Copa veio em boa hora, a Copa do Mundo tem a duração de dias e as obras que serão construídas, terão duração eterna.

Para falar das construções dos Centros de Treinamentos, temos que dar um passeio pela história dos Clubes tradicionais de Cuiabá (Mixto, Dom Bosco e incluindo o Operário como membro da grande Cuiabá).

O Estádio Eurico Gaspar Dutra era o templo do futebol antes do advento da construção do Verdão, os dirigentes eram amadores, mas extremamente apaixonados, honestos e sempre respeitando as tradições de suas agremiações, e para homenageá-los, vamos citar apenas os principais: pelo Dom Bosco nos lembramos do eterno Presidente Joaquim de Assis, pelo Mixto lembramos nos do grande e inesquecível Professor Ranulfo Paes de Barros e pelo lado do Operário o Comendador Rubens dos Santos, cada um na sua forma de administrar e envolver com o clube e com a cidade, cada um ao seu jeito carregaram essas agremiações nas costas.

Lembrando de algumas passagens que é importante citar, que cada clube tinha a sua mística, e nas proximidades dos clássicos, cada clube tinha o seu Pai de Santo. O Operário mandava buscar o Carrapato em Corumbá, e ele fazia aquelas oferendas de terreiros para derrotar os adversários. O Mixto para não ficar para trás contratava o reforço espiritual do Pai de Santo Noêmio, que também fazia as suas mandingas e oferendas para fazer o seu time vencer e para prejudicar os adversários colocava os nomes de jogadores na boca de sapo, costurando-a e fincando alfinetes no corpo do animal para que os jogadores contundissem; e para quem viveu essa bela passagem da história do nosso futebol, tenho certeza ao ler este texto vai sentir muita saudade.

Não podemos esquecer-nos dos grandes torcedores, que agitavam as bandeiras nas arquibancadas do Dutrinha, eles faziam parte do espetáculo e davam vida ao nosso futebol.

Pelo lado do Dom Bosco tinham como os seus grandes torcedores: Armindo Pipoqueiro; Henrique Palminha, Carlinhos Iéié, e lá no último degrau da arquibancada nós víamos o famoso Professor João Crisóstemo andando nervosamente de um lado para o outro, suspendendo as calças e penteando os cabelos, e não podemos esquecer também do Mexidinha, os torcedores diziam para ele assim: _“mexe ai mexidinha, e ele mexia o corpo inteiro”.

Pelo lado Operário entres os seus torcedores podemos citar: o grande Zarour que aos gritos incentivava o tricolor da fronteira; dona Mariana na sua inigualável agitação e Calazans com o seu grito tradicional : _“vamos Opeeeeeeeeeeerário”.

E, pelo lado Mixto tinham as figuras de “Chincharrinha”, a grande torcedora “Nhá Barbina” com aquela enorme bandeira alvinegra a tremular e com aquela voz rouca, soltava os gritos pelo seu time do coração.

Quantas saudades daquelas tardes de domingo, era paixão pura, era emoção que nascia no fundo das nossas almas, e era uma rivalidade sadia, sem violência, tanto é que ninguém saia ferido, ao fim dos jogos vinham somente as dores de cabeça pelas derrotas e as alegrias das vitórias. Estão tentando apagar as nossas tradições e a nossa história, de tantas administrações ridículas e péssimos gerenciamentos que apequenaram o nosso futebol, não houve transferências de experiências e as nossas tradições foram jogadas no esquecimento, por isso a realização da Copa do Mundo, por ser o maior espetáculo do mundo será um divisor de água, pois com o sucesso da Copa, ficará mais evidente o contraste com o pior futebol praticado em Cuiabá nos últimos tempos. Essa regressão é diretamente proporcional à pura incompetência dos dirigentes, os cuiabanos são merecedores de espetáculos melhores, “dá licença”, são três décadas perdidas.

O que fizeram com o nosso futebol? Pergunto eu.

Como explicar esse esvaziamento de tudo: de público, de emoção e administração?

O que fizeram com o nosso futebol? Pergunto eu e todos estão a perguntar.

Regrediram o nosso futebol ao nada absoluto, são contratações de jogadores de categoria duvidosa, são dirigentes sem almas futebolísticas, sem sentimentos e que contratam jogadores em fim de carreira (boleiros com data de validade vencida), não há alternância de comando na Presidência da Federação, e com isso o Presidente passa a ser consumido pelas rotinas e pratica a mesmice de programar campeonatos só para cumprir o cronograma, deixando de ter senso crítico e virando um rei de si mesmo e implantando o sistema de cargo vitalício.

Mas chega de saudade, o futebol de Cuiabá tem que apoiar-se na realização da Copa do Mundo para dar um salto de qualidade e os clubes devem voltar a organizar suas diretorias com dirigentes que tenham como espelho as figuras de Joaquim de Assis; Ranulfo Paes de Barros e Rubens dos Santos, e buscando de uma maneira inteligente implantar definitivamente o regime de profissionalismo, buscando patrocinadores e planejamento ao nosso futebol, sem ficar na dependência dos políticos e situações transitórias.

Voltamos ao início deste texto, para falar do futebol propriamente dito, mais que a “Arena de Múltiplo Uso – Verdão”, temos certeza que a construção dos Centros de Treinamentos que serão oferecidos de alojamentos para as Seleções Internacionais, ficarão com estruturas de primeiro mundo que poderão ser doados para os Três Clubes Tradicionais, (Dom Bosco, Mixto e Operário) e que de posse desses Centros de Treinamentos esses clubes passarão a ter todas as condições para estruturar com a própria instalação da sede administrativa, departamento de futebol, departamento médico, alojamentos, restaurante, campos para treinamentos, e planejar a formação das categorias de base, e formar seus próprios elencos para disputar campeonatos de igual para igual com os grandes clubes do país e transformar as vendas de jogadores em receitas.

Que a imprensa, e toda a sociedade envolvida com o futebol cuiabano, se posicionem e desde já procurem acompanhar as localizações e as construções dos Centros de Treinamentos (que sejam construídos dois em Cuiabá e um em Várzea Grande) e que desde já passem a lutar para que o Governador firme compromisso, através de projetos de lei, com dispositivo legal determinando que após a Copa essas estruturas sejam doadas em definitivo aos Clubes, e que esses Centros de Treinamentos sejam o ponta pé inicial da redenção do nosso futebol cuiabano, para que em pouco tempo, possamos ver novamente as bandeiras alvinegras, azul celeste e tricolores, tremulando de alegria e emoção nas arquibancadas na Arena de Múltiplo Uso – Governador José Fragelli – O Verdão. 

Wilson Carlos Fuá é economista, Ouvidor Geral da SINFRA/MT e ex-Jogador do Mixto
fuacba@hotmail.com



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