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Quarta - 25 de Agosto de 2010 às 14:15
Por: Alexandre Garcia

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Alexandre Garcia é jornalista em Brasília e escreve em A Gazeta às terças-feiras
Alexandre Garcia é jornalista em Brasília e escreve em A Gazeta às terças-feiras

O Correio Braziliense publicou domingo uma pesquisa sobre o que pensa o eleitor da capital do Brasil. Apenas 13,9% disseram confiar no Legislativo e somente 19,5% afirmaram que acreditam no Poder Executivo, isto é, no Governador e seu secretariado. Significativamente isso acontece naquela que é chamada em hino de A Capital da Esperança. Há, ao contrário, uma total desesperança, a se medir por essa descrença. Mais da metade dos eleitores consultados afirmaram que Brasília é, sim a capital da corrupção. Talvez envolvidos por esse clima, muitos falam em anular o voto, como forma de protesto. A urna eletrônica não permite que se registre o protesto votando no Macaco Tião ou no rinoceronte Cacareco. Para anular o voto, será preciso digitar um número de candidato inexistente, como repetir o zero ou o 9 que, afinal, segundo a ficção medieval, é o número do diabo plantando bananeira. Mas é preciso esclarecer que o TSE já avisou que voto nulo não anula eleição; ele apenas é computado com os brancos em separado dos votos válidos. Com isso, fica mais fácil eleger deputado com menos votos. Quer dizer: de nada adianta votar nulo ou em branco. Um número alto deles servirá apenas para medir a insatisfação, sem conseqüência na escolha dos candidatos.

Ouço cada vez mais gente educada, letrada e informada se queixar de que não há opção. Que os partidos escolhem candidatos que não são dignos de nos representar. Isso aumentou quando os candidatos se expuseram mais no rádio e na tevê, na propaganda obrigatória ou em debates. Asneiras, asnices, erros crassos de linguagem, desinformação, besteiras, falta de respeito com a inteligência dos eleitores. Aos que se queixam disso, pergunto se democracia não é a voz da maioria. E o que é a maioria neste país sem Educação? A maioria não lê, é desinformada, pensa que o eleito é um paizão capaz de distribuir benesses, não tem a menor noção de onde vêm os recursos, não sabe qual é a função de deputados, senadores, governadores, presidente. Então, a propaganda eleitoral se dirige à maioria iletrada, levando apenas emoções, impressões, e não informação e conceitos. Daí as promessas absurdas, os compromissos irrealizáveis que, no entanto, decidem voto.

Quando Cristovam Buarque se candidatou à presidência com a bandeira da Educação, fez 2% dos votos. Essa é a medida da vontade de melhorar. Os políticos não se interessam em melhorar a educação. Por isso, professores são mal pagos e mal formados, escolas públicas caem aos pedaços, faltam bibliotecas, laboratórios, professores que consigam formar uma frase ou que falem sem gerundismos ou modismos, como o abominável disponibilizar, ou muletas da língua, como o onipresente verbo colocar. Que criança vai aprender a pensar, desse jeito? Sem lógica, como vai raciocinar sobre política, sobre cidadania? Até as aulas de moral e cívica foram eliminadas, como se fossem coisa da ditadura, quando são coisas da democracia.

O resultado é que temos uma democracia autêntica, com representantes fiéis aos representados: uma grande maioria de eleitos iletrados, em busca das vantagens do poder de administrar o dinheiro público - com a maior naturalidade, sem se darem conta que o nome correto é "dinheiro do público".

Alexandre Garcia é jornalista em Brasília e escreve em A Gazeta às terças-feiras.
E-mail: alexgar@terra.com.br



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