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Segunda - 16 de Agosto de 2010 às 16:24
Por: WILSON CARLOS FUÁ

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Econ. Wilson Carlos Fuá -  Ouvidor Geral da SINFRA
Econ. Wilson Carlos Fuá - Ouvidor Geral da SINFRA

Estou aqui a lembrar de uma passagem histórica dos Servidores Rodoviários do Estado de Mato Grosso, eram os componentes do quadro da autarquia mais conhecida e respeitada do Estado – DERMAT – Departamento de Estradas de Rodagem de Mato Grosso, hoje aqueles servidores remanescentes estão lotado na Sinfra.

Os funcionários do Dermat sentiam orgulho de serem chamados de rodoviários, os Engenheiros diziam com prazer: “eu sou Engenheiro de Estradas, sou um Engenheiro Rodoviário”, em seu quadro tinham componentes específicos: os Técnicos de Estradas; os Desenhistas Projetistas; os Topógrafos; os Laboratoristas; os Administradores de Campo; os Operadores e Mecânicos de Máquinas; os Mestre Carpinteiros (construtores de Pontes de Madeira), os Cozinheiros e não podemos deixar de lembrar do pessoal da Administração e os Diretores, que gravaram seus nomes na história deste estadão de Mato Grosso, mas que foram esquecidos na hora das homenagens e festividades das inaugurações de rodovias e pontes deste Estado.

Hoje, voltando no tempo, os servidores do Dermat ficam a imaginar os saudosos tempos onde não existiam grandes empreiteiras e todos os serviços eram executados por obras diretas (projetos; implantação; manutenção; construção e pavimentação de rodovias; pontes de madeiras e concretos, os funcionários se autoespecializavam, as experiências eram repassadas entre eles na própria execução do objeto da obra).

O Dermat tinha em suas equipes compostas de grandes engenheiros, (só para lembrar alguns e homenagear os demais citamos: Renê; João Manoel, Orlando; Domingos; Arquimedes; os Fernandos – Muller, Calmon e Boca Preta; Sanduca; Carlos Siqueira; Hilton; Elesbão; Adélcio; Tércio; Filogônio; Zenildo; Mariângela; Marilda; Gisela; e Letícia e tantos outros) tinha os Rádios Amadores: Herani e Paiva que mantinham a comunicação com as frentes de serviços; os Administradores de Campo (como: Leonardo; Antonio Ribeiro; Luiz Ribeiro e Ciro) , Topógrafos (como: Baiano e Seabra), Carpinteiros construtores de Pontes de Madeira (como: Mestre Paulo, Mestre Agostinho, Mestre Airton e Mestre Antonio de Andrade), Operadores de Máquinas(como: Branco; Baiano e Zacarias) Motoristas (como: Abílio, Abel, Galdino Castiça, Janildo; Lenine; Ilton, Zaféte) Mecânicos (como: Mané Bombril e Mané Sombração) , Cozinheiros (como: Dito Boi; Alcides, Mané Romão e Gregório).

Cada rodovia a ser construída tinha uma patrulha rodoviária, com seus equipamentos: Trator de Esteira, Motoniveladora, Rolo Compressor e Pé de Carneiro; Caminhões Basculantes, Pá Carregadeira e Melosa (para lubrificação).

Essas equipes chegavam à beira de um córrego e acampavam, e todas as etapas alimentares eram preparadas pelo cozinheiro da equipe, que servia a famosa “Maria Izabel”, feita de carne seca com arroz, pimenta malagueta e cebolinha plantada no canteiro a beira do córrego, e a sobremesa era deliciosa marmelada em lata, ou rapadura simples, tinha o cafezinho da hora, quentinho coado no saco de pano (o Dermat fornecia a etapa alimentar), e essa equipe ficava acampada até a conclusão da estrada, velhos tempos que não voltam mais. Há que relembrar, um fato significante, que toda as etapas alimentares eram fornecidas pelo Armazém do Seo Fiote – A Futurista, situada rua na 24 de outubro, em frente ao Armazém Dutra fumo bom, eram dali que saiam as mercadorias para abastecer os almoxarifados e acampamentos das equipes do Dermat.

Essas estradas construídas estão gravadas na historia de cada um desses trabalhadores anônimos, e que através desta crônica estamos a homenageá-los, os carpinteiros juntamente com o cozinheiro, instalavam suas barracas cobertas de lonas ou folha de babaçu, geralmente na beira de um riacho ou córrego, e ficavam ali acampados até o término da construção da rodovia, e mesmo com saudade e apreensão, deixavam suas esposas e filhos para trás e dedicavam suas vidas em nome do Dermat e do Estado de Mato Grosso. Todos os funcionários do Dermat tinham orgulho de ser estradeiro e ser um desbravador de sertão.

Hoje, ainda vaga nas lembranças daqueles servidores os nomes dos grandes engenheiros que ocupavam cargos de presidentes pelo Dermat, podemos citar alguns como: o Dr. Marcelo Miranda Soares; depois Dr. Lotufo; Dr. London e Dr. Edgar Prado, entre outros também muitos importantes, só para citar alguns nome históricos.

A partir das picadas abrindo clarão na mata, os sonhos e projetos rodoviários eram transformados em realidade, e a partir daí, nasciam novas comunidades e novos lugarejos, e enfim novas cidades e até hoje o progresso deste Estado é levado através das rodas dos caminhões. Fica aqui registrado que muitos trabalhadores perderam a vida contraindo a febre amarela e doenças tropicais, quantos trabalhadores não deram suas vidas em acidentes de trabalho?

Reconhecer é a melhor forma de homenagear, mas como o reconhecimento é difícil para chegar aos humildes, digo que nesta terra não se homenageia os pequenos trabalhadores, isso fica claro, é só pesquisarmos que em nenhuma ponte contem nome de um mestre carpinteiro na placa (mesmo que seja de madeira) e nem em nenhuma rodovia (mesmo que seja vicinal) não consta lá o nome de nenhum honrado trabalhador do Ex-Dermat, hoje Sinfra.

Parabéns a todos os servidores do antigo Dermat, muitos já faleceram, mas fica aqui essa homenagem a todos vocês, onde estiverem, pois a história há de lembrar-se de todos os verdadeiros estradeiros, que tem o sentimento de rodoviário convicto e que tem a estrada na alma.

Nas imagens dos acampamentos ficaram as lembranças de um tempo muito bom, e naquelas lembranças fazem partes da vida daqueles servidores do Dermat (as brincadeiras na colocação de apelidos, as alimentações feita na hora (quentinhas e saborosas), as noites mal dormidas nas redes (suportando os mosquitos) e tinha o lado bom, como os banhos de córregos, pescarias nas horas vagas, colheitas de frutas do serrado e caçadas de animais para diversificar a alimentação). Mas tenham certeza que no progresso deste Estado de Mato Grosso, ficará para sempre inserido a parcela do trabalho, do cansaço e do suor daqueles profissionais rodoviários que construíram este estadão de Mato Grosso.

Econ. Wilson Carlos Fuá – Ouvidor Geral da SINFRA
fuacba@hotmail.com



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