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Terça - 28 de Fevereiro de 2017 às 19:02

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Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta

Esta coluna, há tempos, registra e comenta o discurso político e o próprio jogo político. Nada, neste campo, escapa-lhe dos olhos. Independentemente das cores partidárias, ou de quem se encontra no posto de mando ou do timbre da voz do enunciador. Ainda que o cântico esteja fora do tom, ou em descompasso entre o que se prega e a sua prática cotidiana. E não basta um simples olhar sobre, mas que seja verdadeiramente cuidadoso. Clínico e crítico com certeza. Exigência de o próprio viver democrático. Viver que é plural, assim como é a própria sociedade, a qual se assenta em um dado terreno contextual e se fortalece à medida que suas coisas são também valorizadas. Coisas que bem poderiam ser substituídas por maneiras, expressões e valores que lhe são só suas. É isto, afinal, que se chama de cultura, e com a qual se distingue um pouco das demais sociedades. Daí, portanto, a necessidade da preservação dessas coisas. Detalhe defendido pelo agente político, quando em campanha eleitoral, mas completamente esquecido por ele tão logo se torna também agente público. Este é o caso do atual prefeito cuiabano, pois age igualmente ao seu antecessor, mesmo sabendo bem antes da questão da reforma da Casa Barão de Melgaço.

Uma reforma que deveria ser concluída e entregue em 2016, a exemplo de outras de quinze imóveis, como parte do PAC Cidades Históricas do governo federal, cuja responsabilidade de execução está a cargo da prefeitura de Cuiabá e do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

Pois bem, até hoje, a referida reforma não foi terminada, mesmo diante das cobranças insistentes e sistemáticas de combativos integrantes da AML e do IHGMT. O prejuízo é enorme. Incalculável. São documentos, livros e imagens que se encontram desabrigados e sem os cuidados devidos. Porém o tal prejuízo parece não ser levado em consideração pelo gestor público número 1 da Capital. Isto é bastante triste. Revela a não atenção devida com a cultura do Estado. Pois o Casarão é um símbolo, além de ser o guardião e um dos espaços nobres da cultura mato-grossense.

O Casarão se encontra erguido quase no coração da cidade, e em uma de suas mais antigas artérias. Conhecida no passado por Rua do Campo, e por onde, em 1876, o engenheiro Francisco José Gomes Calaça defendeu a instalação de trechos de uma estrada de ferro. Sonho e desejo não concretizados. Ficou, então, uma página no livro da História regional, e esta se soma, além de nortear ou contextualizar a rica cultura mato-grossense, e que precisam continuar sendo preservadas e defendidas. Tarefas assumidas pelos integrantes do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso e da Academia Mato-grossense de Letras - duas das mais antigas instituições do Estado. Instituições que têm como morada a Casa Barão de Melgaço. Casa, hoje, abandonada por quem jamais deveria lhe virar as costas, pois ao assumir o cargo de prefeito, herdou igualmente a incumbência de terminar as obras deixadas pela gestão anterior. É isto.

Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: lou.alves@uol.com.br.



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