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Segunda - 15 de Maio de 2017 às 07:32

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Pio Penna Filho é professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisador do CNPq
Pio Penna Filho é professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisador do CNPq

A fome é um dos grandes dramas da humanidade. Infelizmente, apesar de hoje produzirmos alimentos de sobra para todos os humanos, quase um bilhão de pessoas passa fome ao redor do mundo. Trata-se de uma calamidade global, movida por muita desumanidade e descaso para com o outro.

Desde meados do século XX, com a revolução verde que levou ao aumento da produção e da produtividade na agricultura, atingimos o patamar de segurança alimentar, no sentido de que, pela primeira vez, a produção agrícola passou a ser suficiente para a alimentação de todos os humanos.

Entretanto, a capacidade de produzir alimentos em abundância não levou ao fim da fome e da subnutrição. O que era para ser a segurança alimentar para toda a humanidade não passou de uma vaga possibilidade. O que vimos foi, por incrível que pareça, o aumento da insegurança alimentar em várias regiões, sobretudo na África e em partes da Ásia.

A fome está diretamente relacionada com a pobreza. O desemprego e a baixa remuneração de milhões de pessoas ao redor do mundo levam à privação alimentar. Ou seja, existem alimentos, mas pecamos na distribuição e no acesso a eles. Muitas pessoas simplesmente não têm renda suficiente para se alimentar todos os dias.

Esse enorme contingente populacional entra num ciclo vicioso, onde a pobreza leva à fome que, por sua vez, leva a uma situação de penúria que em muitos casos compromete o futuro ou a própria vida dessas pessoas e de seus descendentes.

É um drama em larga proporção que deveria incomodar a consciência humana, se é que ela existe. Embora existam organismos internacionais e agências nacionais voltadas para o combate à fome e à pobreza, o problema persiste em quase todos os países.

Naturalmente são os países mais pobres e desiguais aqueles que tem maiores contingentes de esfomeados. Mas a fome está presente também em países ricos e desenvolvidos, porque neles também existem pobres.

A solução para esse problema é complexa. Passa pela revisão de políticas públicas nacionais e internacionais voltadas para a supressão da fome e de um disciplinamento da grande especulação financeira que existe em torno da produção agrícola. Não é possível que em pleno século XXI sejamos incapazes de rever a política de acesso a alimentos ao redor do mundo.

É imperativo que a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) exerça um papel mais ativo no plano global e que seja respeitada e apoiada pela comunidade internacional. Embora a FAO seja de grande importância para milhares e milhares de pessoas ao redor do mundo, o suporte que recebe da comunidade internacional ainda é insuficiente para fazer frente ao grande desafio de eliminar a fome do planeta.

Os historiadores do futuro, quando olharem para trás, para a nossa época, certamente notarão esse terrível paradoxo do qual a maior parte de nós é insensível. Temos alimentos para todos, mas negamos o direito à alimentação, ou seja, à vida, para quase um bilhão de pessoas!

Pio Penna Filho é professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisador do CNPq E-mail: piopenna@gmail.com



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