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Quinta - 01 de Junho de 2017 às 07:05

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Lourembergue Alves é professor e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço aos domingos.
Lourembergue Alves é professor e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço aos domingos.

O grande mestre Machado de Assis acompanhou por certo tempo o cotidiano dos parlamentares, registrou feitos importantes dos parlamentares e não deixou de opinar sobre o jogo político da época, embora sendo mais curioso que especialista. Estas tarefas lhe possibilitaram a escrever textos memoráveis, entre os quais "O velho Senado". Neste, o bruxo do Cosme Velho conta que os "senadores compareciam regularmente ao trabalho... (Eles) tinham ar de família... Dissentiam sempre... Nenhum tumulto nas sessões... Não faltavam oradores. Uma vez ouvi Euzébio de Queiroz, e a impressão que me deixou foi viva; era fluente, abundante, claro, sem prejuízo do vigor e da energia..." Isto, (e) leitor, foi há muito tempo. Bastante diferente do Brasil de agora, onde falta tudo, e os parlamentares não discursam, gritam. E, no lugar das grandes defesas, sobrepõe o tumulto.

Foi, aliás, exatamente o que ocorreu, recentemente, na Comissão de Assuntos Econômicos, quando da leitura do relatório da reforma trabalhista. Confusão e agressão física. Cena inadequada, inapropriada de uma Casa de representantes dos Estados e da população. Repetida em outras datas, bem como nas Assembleias Legislativas e nas Câmaras municipais. Situação negativa e reprovável, assim como é reprovável a relação promiscua entre governantes e empresários, entre empresários e o Estado. Tanto que alguns poucos empresários chegam a pautar as políticas públicas (Pode?).

Justifica-se, então, o quadro negativo existente - o de denúncias, de escândalos e de corrupção. O que, por outro lado, justifica a baixa aprovação dos políticos e dos chefes das administrações públicas, em destaque para o presidente Michel Temer, cujo governo tem menos de 10% da aprovação dos brasileiros. O peemedebista já era impopular, tornou-se muito mais. E, diante das acusações, perdeu poder de ação dentro do Congresso Nacional. Ele procura mudar esse retrato, mas não consegue, mesmo mediante as suas reuniões-almoços ou reuniões-jantares. Nada lhe valeram seus dois últimos pronunciamentos, com um espaço de menos de 72 horas de um para outro, provocados por um encontro (áudio gravado) dele com um dos donos da JBS, fora da agenda e do horário devido.Pronunciamentos, cujos conteúdos servem de exemplo de que o discurso político é mesmo um lugar do jogo de máscaras, e, por conta disso, não deve ser entendido apenas pelo que suas palavras dizem, mas também o que elas não dizem. Michel Temer tenta desqualificar o denunciante, mas não tem como negar o tal encontro, nem sobre o que diziam.

O presidente, a cada dia que passa, fica sozinho, isolado e sem forças, a espera, talvez, do lance que venha por fim ao seu próprio tormento. Mas o presidente não é o único a padecer deste mal. Encontram-se também nesta condição os congressistas e os deputados estaduais e vereadores.

Assim, a confusão na sessão da leitura do relatório da reforma trabalhista não foi um episódio isolado. É, na verdade, uma cena que se soma a outras do grande álbum de fotografias do jogo político brasileiro. O grande escritor nacional, Machado de Assis, se estivesse fisicamente por aqui, hoje em dia, ficaria certamente envergonhado e, obrigado a escrever, se valeria enormemente da sua ironia sutil para realçar as cenas presenciadas. É isto.

Lourembergue Alves é professor e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço aos domingos. E-mail: lou.alves@uol.com.br.



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