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Domingo - 09 de Julho de 2017 às 10:51

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* VICENTE VUOLO é analista legislativo do Senado, economista e cientista político
* VICENTE VUOLO é analista legislativo do Senado, economista e cientista político

A falta de educação política no Brasil nos levou a uma defasagem no transporte ferroviário desde a década de 1930, quando se resolveu investir quase que exclusivamente em rodovias. Ignoraram por completo o princípio básico de que as ferrovias são o meio de transporte com maior capacidade de transporte de carga e de passageiros.

Diferentemente, os países desenvolvidos entenderam muito bem os enormes benefícios desse meio de transporte. Decidiram investir pesado em ferrovias, notadamente, em regiões altamente industrializadas, como a Europa e o extremo leste da Ásia, e até locais altamente populosos como a Índia.

O resultado é que países continentais como Estados Unidos, Rússia, China, Índia, Canadá e Austrália, que priorizaram a ferrovia, somados construíram uma malha ferroviária de cerca de 600 mil quilômetros, sendo que somente nos Estados Unidos são 230 mil km de trilhos.

Nesses países, temos vários projetos desenvolvidos Norte-Sul e Leste-Oeste. Vale a pena citar a Transiberiana, a ferrovia mais longa do mundo entre Moscou e Vladivostok com 9.299 quilômetros de extensão, cruzando 7 fusos horários. Outra obra fantástica é a ferrovia Kien Liu, a mais alta e extrema do mundo ligando Xining, província de Qinghai, a Lhasa, região do Tibet, na China. Foram necessários escavar 7 túneis e construir 675 pontes em uma altitude de 5.000 metros onde é quase impossível a respiração.

Enquanto isso, o nosso histórico é de desorganização e abandono. Desorganização porque sequer temos bitolas padronizadas, impedindo a interligação de trechos. Abandono porque estacionamos nos 30 mil quilômetros há quase 90 anos.

Grandes projetos foram preteridos. O projeto de ligar a Amazônia ao Rio Grande do Sul por trilhos se arrasta por quase 30 anos sem prazo para conclusão. Para muitos a ferrovia Norte-Sul já virou lenda.

Outro projeto não concluído é a ferrovia São Paulo – Cuiabá a partir da ponte rodoferroviária sobre o rio Paraná entre Rubinéia (SP) e Aparecida do Taboado (MS). Foram necessários 30 anos para se construir menos de 900 quilômetros de trilhos de Aparecida do Taboado - Chapadão do Sul - Alto Taquari - Alto Araguaia – Itiquira – Rondonópolis. Para se ter uma ideia da morosidade, o então parlamentar Vicente Emílio Vuolo apresentou o projeto em 1974 no Congresso Nacional, obtendo a sanção do presidente Geisel transformado na Lei 6.376 de 1976, que incluiu no Plano Nacional de Viação esse trecho até a capital mato-grossense. Faltam apenas 200 km para chegar a Cuiabá.

Recentemente o governo federal anunciou a intenção de autorizar que cinco ferrovias já concedidas entrem no processo de renovação antecipada de contratos, em troca de investimentos. As ferrovias são a Estrada de Ferro Carajás (Pará e Maranhão), a Estrada de Ferro Vitória-Minas, a FCA (Centro-Oeste e Sudeste), a ALL – Malha Paulista e a Malha da MRS, que passa por Minas Gerais, pelo Rio de Janeiro e por São Paulo. Esses cinco trechos somam 12,6 mil quilômetros de extensão, movimentam cerca de 457 milhões de toneladas de cargas e representam mais de 90% do fluxo total de cargas por ferrovias no Brasil.

Os investimentos previstos nos próximos cinco anos são de apenas R$ 25 bilhões. Comparado ao que tem sido feito por outros países de dimensões comparáveis às do Brasil, trata-se de um vexame. Isso é importante para as ferrovias existentes, mas nada representa em relação ao futuro.

Falta planejamento, falta interesse, falta financiamento... nos faltará o futuro.

* VICENTE VUOLO é analista legislativo do Senado, economista e cientista político



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