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Segunda - 21 de Agosto de 2017 às 16:21

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Daniel Almeida de Macedo é doutor em História Social pela USP
Daniel Almeida de Macedo é doutor em História Social pela USP

Quando se debruça sobre a questão do futuro do trabalho, surge a sensação ambígua de perplexidade e entusiasmo. O ponto de partida da maioria das análises sobre o tema é o papel que tecnologia terá nos processos produtivos no futuro. O avanço da inteligência artificial, o desenvolvimento da impressão 3D e aplicações cada vez mais disseminadas da robótica irão transformar o mercado de trabalho, mas não irão exterminar os empregos como antes se temia, até mesmo porque menos de 5% das atividades humanas podem ser totalmente automatizadas. Mas é certo que os setores industrial e varejista terão um grande número de processos modificados pelo uso de softwares ou máquinas inteligentes. Segundo recente estudo realizado pela consultoria McKinsey sobre o futuro do trabalho, a previsão é que ocorra uma transformação nas profissões em vez de uma extinção generalizada dos empregos.

O relatório da McKinsey demonstra que as mudanças tecnológicas já estão impactando o trabalho, mas o ritmo das mudanças irá acelerar muito a partir de 2020. Funções de escritório e administrativas, bem como de fabricação e de produção, sofrerão fortes declínios, afetando no mundo mais de seis milhões de postos de trabalho ao longo dos próximos quatro anos. Por outro lado, funções na área comercial, financeira e computacional irão aumentar. Os avanços na tecnologia móvel e em nuvem que permitem o acesso remoto e instantâneo são apontados como o recurso tecnológico mais importante dessa mudança, permitindo a rápida disseminação de modelos de serviços com base na Internet.

O avanço da inteligência artificial, que consiste no desenvolvimento de máquinas capazes de resolver problemas anteriormente limitados à resolução por cérebros humanos, também tem sido surpreendente. Desde 1997, quando o campeão mundial de xadrez Garry Kasparov foi derrotado pelo supercomputador da IBM chamado Deep Blue, a inteligência artificial evoluiu de forma impressionante. Os sistemas de aprendizagem profunda, baseados em redes neurais artificiais que seriam "treináveis" pelo processamento de enormes quantidades de dados, em vez de serem sistemas "explicitamente programados", são o exemplo máximo dessa tecnologia que hoje já está sendo largamente aplicada.

O futuro do trabalho, que parece estar condicionado de forma indissociável às tecnologias que estarão disponíveis no futuro, pode ser considerado uma janela de oportunidades ou representar um horizonte de ameaças. É certo que o uso de robôs em algumas tarefas melhora a performance dos negócios ao reduzir erros e elevar a produtividade, atingindo patamares que a capacidade humana não seria capaz de alcançar. Mas nem tudo pode ser feito por robôs. Nesse sentido, uma das possibilidades que se apresenta para um futuro próximo é a realização de ofícios próximos do cuidado humano, aqueles nos quais a inteligência artificial não pode ser empregada. São trabalhos, por exemplo, relacionados com o cuidado de bebês, de idosos ou doentes, e que na atualidade não são socialmente reconhecidos. Por outro lado, é importante que os jovens ganhem competências em áreas que vão gerar emprego no futuro, como é o caso da programação e da robótica. A educação e a requalificação para o desempenho de atividades mais complexas e que demandam maior capacidade cognitiva, flexibilidade e criatividade são ações estratégicas para a geração das ferramentas necessárias para o mercado de trabalho do futuro.

Daniel Almeida de Macedo é doutor em História Social pela USP



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