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Quarta - 30 de Agosto de 2017 às 09:43

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Gonçalo Antunes de Barros Neto escreve aos domingos em A Gazeta
Gonçalo Antunes de Barros Neto escreve aos domingos em A Gazeta

Em "O Cultivo do Ódio", Peter Gay afirma que "Os humanos, animais beligerantes que são, cultivam seus ódios porque obtém prazer com o exercício de seus poderes agressivos. Mas as sociedades em que eles vivem cultivam o ódio precisamente da maneira oposta, sujeitando a agressão na maior parte de suas formas a um controle estrito; elas puxam as rédeas da violência antes que ela destrua tudo".

O ódio parece ter seu lugar, exatamente onde os valores ruminam em atos de honra. Durante muito tempo o "mensur", briga entre estudantes armados de sabres, foi tolerado na Alemanha. Não só tolerado, até incentivado na época da "singular" cicatriz, quem a tivesse recebia honras de homem corajoso. Para William James: "a mulher ama mais o homem quando mais enfurecido ele se mostre".

Uma cena caricata as moças esperando em casa, rezando por seu bravo, honrado e combatente, torcendo um lenço molhado de lágrimas. A metáfora, aqui, se contextualiza nos séculos XVIII e XIX.

A modernidade venceu esses conceitos, mesmo porque se sabe que poderá haver mais honra na rejeição de um combate, que se mostra de todo sanguinário e inconsequente, que em sua aceitação.

As mulheres já não esperam os combatentes, são elas as protagonistas do bom combate. Vivem-se outros valores, se aceita a axiologia como ciência e a inclusão como meta. A internet descortinou a tudo e a todos, a transparência é uma realidade.

E por que ainda persiste a violência, a corrupção, o "jeitinho", a divisão de classes, a miséria? Qual o sentido disso para a existência? A falha está na falta de reflexão?

O prático enxerga a tudo como um campo de batalha - de um lado, os do bem, de outro, os fora da lei, sem qualquer consideração sobre justiça, equidade, liberdade e igualdade-. Isto também não ajuda, somente endossa e pavimenta o desencadeamento de mais violência, desaguando em "soluções" golpistas, fraticidas, que só oprime e mantém privilégios burocráticos.

O teórico fica na elucubração e não milita. Acaba por tornar-se insignificante e omisso ao problema. E o senso comum, que em nada avança, sempre à espera da canalha, do politicamente correto, sugando a religião como antibiótico de sua dor.

Se o homem se torna o que conhece a ponto de se perder dentro de uma realidade difusa (Marcílio Ficino, 1433-1499), é mais que evidente que, dada a liberdade (entendida aqui como potencialidade operativa, como poder de opção; causa, portanto) como inerente ao humano, pode-se sempre alterar essa mesma realidade.

Para isso, primordial afastar os fervorosos adeptos do "deixa disso", aqueles que não tomam partido e se dão bem com todos, os medíocres e os covardes. O ódio deve ter seu lugar (...).

Deixem os masoquistas trabalhar, os sádicos também ajudam bastante, porque dos "certinhos" e "engomadinhos", sem loucura alguma pra compartilhar, nos dá até preguiça. Ou não?

Otto Lara Resende estava certo "o desenvolvimento humaniza a máquina e maquiniza o homem"-. Deve-se falar mais das flores, em campo derramado.

É por aí...

Gonçalo Antunes de Barros Neto escreve aos domingos em A Gazeta (e-mail: antunesdebarros@hotmail.com).



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