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Segunda - 01 de Setembro de 2014 às 05:17
Por: HELDER CALDEIRA

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HELDER CALDEIRA, Escritor e Jornalista
HELDER CALDEIRA, Escritor e Jornalista
A desinformação — ou alienação, agora travestida em ridículo e pobre desinteresse — é a praia da expressiva maioria do eleitorado brasileiro. Nesse areal de hipocrisia pedestre e falsa humildade, não raro, sereias são avistadas caminhando sobre as águas turvas da política nacional, entoando cantigas para bois — e bestas! — dormirem. Faltando um mês para as eleições presidenciais, as pesquisas Ibope e Datafolha revelam o avanço da maré.

“A novidade veio dar à praia na qualidade rara de sereia. Metade o busto de uma deusa Maia, metade um grande rabo de baleia.” São os célebres versos iniciais da canção “A Novidade”, composta em 1986 pelo baiano Gilberto Gil e pelos “paralamas” Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone. Numa sociedade feudal que não consegue evoluir, não espanta que uma música com quase trinta anos de idade seja tão atual e adequada, ainda que agora servida à mesa em forma de crítica aos autoproclamados “noviciatus” na seita política brasileira.

Não por acaso, a sereia da vez tem 56 anos de idade e completa bodas de prata com a vida pública. Ao (ir)respeitável — e amnésico — público, Marina Silva apresenta-se como “a novidade”, impulsionada por uma tragédia que comoveu o país e instalada num partido político mais velho que a avó de muitos leitores. Mas, embalada para presente com laços de fita tão modernosos quanto incoerentes. A empatia com o eleitor brasileiro é imediata, fanático pelo debate pequenez — único que a maioria alcança — e apaixonado por meteoritos brilhantes. Vide Collor e Lula, dois rabos de foguete recentes na “Res publica” das bananeiras.

Não é surpresa, portanto, que a candidata rede-socialista afronte a inteligência da plateia que se recusa a cair na armadilha dos folguedos circenses — são poucos, mas ainda existem e resistem! — com o anúncio daqueles que ela, Marina, considera “as melhores novidades”. O paradoxo da sereia faz lembrar o caminhão colorido do palhaço, que explode no meio do espetáculo.

No bojo dos tais “melhores novos”, a ex-petista Marina Silva cita Gilberto Gil e Cristovam Buarque, dois ex-ministros no (des)governo Lula; faz questão de apontar o ex-correligionário Eduardo Suplicy; abraça o “bloc” Caetano Veloso; desce borduna no PMDB, mas quer Pedro Simon em sua gestão, um dos mais antigos emedebistas vivos; diz desprezar os nobres banqueiros, mas sua principal timoneira é Neca Setúbal, bilionária herdeira de um conglomerado de bancos brasileiros; e, na suposta defesa constitucional do Estado laico e dos direitos civis, ouve com fervor os conselhos proféticos do pastor Silas Malafaia. Com a devida deferência a Cristovam e Simon — seres políticos que também admiro —, o que há de novo nessa praia, cara pálida?!

Não há a menor possibilidade de surgir uma “Nova Política” no Brasil pelas mãos de uma velharia — perdoem a expressão, mas não há outra que melhor identifique — que vem dar à praia na qualidade rara de sereia. O fenômeno Marina é mero truque de ilusionismo. Nas cercanias do Palácio do Planalto já é possível ouvir o batuque vindo de uma praia esquisita, outrora possibilidade remota, hoje perversa realidade. “A novidade era o máximo do paradoxo estendido na areia. Alguns a desejar seus beijos de deusa; outros a desejar seu rabo pra ceia”, segue o louvor.

HELDER CALDEIRA, Escritor e Jornalista
helder@heldercaldeira.com.br



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