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CULTURA
Quarta - 10 de Julho de 2013 às 20:17

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A Caravana Pixaim distribuirá três mil exemplares do livro “Cabelo Ruim”, da jornalista Neusa Baptista
A Caravana Pixaim distribuirá três mil exemplares do livro “Cabelo Ruim”, da jornalista Neusa Baptista

Mais de 600 crianças de quatro cidades de Mato Grosso participaram da primeira temporada do projeto Caravana Pixaim nos últimos dias. Somadas às já atendidas pelo projeto em Cuiabá e Várzea Grande, a ação já atingiu quase mil crianças, além de professores e funcionários de escolas estaduais. Nos últimos dias, a ação passou por Santo Antônio do Leverger, Nossa Senhora do Livramento, Poconé e Jangada.

A Caravana Pixaim distribuirá três mil exemplares do livro “Cabelo Ruim”, da jornalista Neusa Baptista a escolas de 22 cidades e leva uma peça teatral homônima baseada no livro para discutir as relações raciais dentro da escola.

Desde a última sexta-feira (5), o projeto tem percorrido as escolas levando também oficinas de leitura e escrita, esta última ministrada pela autora do citado livro, Neusa Baptista. À frente do projeto está o produtor Paulo Traven, da CUFA-MT.

Em Santo Antônio de Leverger, onde a Caravana esteve na escola Leonidas de Matos (600 alunos), a coordenadora do programa Mais Educação, Gretchen Pinheiro, ressaltou que a população local é mestiça e que, portanto, tem levado a discussão sobre a diversidade à sala de aula por meio do diálogo. “Trabalhamos temas como direito, cidadania, valores, na medida do possível”, disse ela.

O estudante Kilmair Ygor Galdino, 10 anos, ressalta a presença do preconceito na escola por meio de piadinhas, brincadeiras, mas reprova a atitude. “Tem meninas que tem o cabelo enrolado e são chamadas de bombril. Isso é horrível, pois se fosse a gente, não íamos gostar”. A opinião é compartilhada pela maioria dos alunos participantes das atividades, porém a maioria identifica situações de discriminação racial na escola e na sociedade. “Cada um tem seu nome, ninguém gosta de apelidos”, disse a estudante Clara da Silva, 14 anos.

A professora Elaine Cristina da Silva aponta que a discriminação está geralmente relacionada à aparência. “Qualquer coisa fora do estereótipo é alvo de piadas e apelidos”.

A mesma opinião é expressa pela coordenadora da escola José de Barros Maciel, em Nossa Senhora do Livramento, Mariluce Fátima da Silva. “Não podemos negar que o preconceito racial existe. Aqui mesmo na escola, em dia de festa junina, ninguém quer dançar com as meninas mais ‘moreninhas’”.  O estudante Geovane Carvalho da Silva, 11 anos, confirma que os xingamentos dos colegas são constantes.  “Tem colega da sala que é chamada de cabelo Bombril. Tem reunião de pais, mas ninguém participa”.

A professora Azélia Martins Melo lembrou que, na edição anterior da Caravana, em 2010, era assessora pedagógica e trouxe à escola os remanescentes de quilombolas da comunidade de Mata Cavalo. “Foi muito proveitoso, pois meninas de lá que fizeram a oficina de tranças depois voltaram aqui para dar mais uma oficina”.

Em Poconé, onde a Caravana passou pela escola Bacharel Ribeiro de Arruda,  a professora de História Marilda Domingas informa não haver projeto específico sobre o tema na escola, mas que isso é abordado de forma contínua. “Conversamos muito com os alunos, mas sentimos sua resistência a discutir esse tema”.  O diretor Wanderson Sebastião Barbosa (Ximbo) confirma que 70% das crianças são negras, descendentes dos negros escravizados no passado.  “Até quarenta anos atrás havia locais interditados aos negros na cidade. Mas isso mudou muito. Na última eleição, tivemos duas vereadoras negras”.

A articuladora educacional da escola Prof. Arlindo de Souza Bruno, em Jangada, Eucila Jesus de Arruda, comenta que as atividades voltadas ao tema se concentram em novembro, mês da Consciência Negra. “É preciso mudar, e é mais fácil mudar as crianças. Este trabalho de conscientização é muito importante”.

A professora de Educação Infantil Vilma Vera Mendes, fala da falta de materiais didáticos e das dificuldades de trabalhar o tema. “A gente lê muito para eles sobre isso. O último livro foi ‘Menina Bonita de Laço de Fita’ e foi muito bom. Aqui não temos projetos, mas já trabalhamos isso em projetos em outras escolas”.

Devido às férias escolares, as ações do projeto voltam em agosto. Saiba mais sobre o Projeto Pixaim no endereço: www.projetopixaim.blogspot.com.







URL Fonte: http://toquedealerta.com.br/noticia/14508/visualizar/