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JUSTIÇA
Quarta - 15 de Fevereiro de 2012 às 05:51
Por: Marina Novaes e Vagner M.

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O segundo dia do julgamento de Lindemberg Alves Fernandes foi marcado pelos depoimentos dos irmãos de Eloá Pimentel, Douglas e Ronickson, e do policial militar Adriano Giovanini, do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate), que negociou a soltura das reféns durante a maior parte do cárcere privado, que durou mais de 100 horas. Todos disseram que desde que Lindemberg chegou ao apartamento da vítima, a intenção do réu era de matá-la. Convocada para depor pela defesa, a mãe de Eloá, Ana Cristina Pimentel, foi dispensada pela advogada Ana Lúcia Assad, que representa o réu, e não precisou depor. Isso, porém, não impediu que ela e o acusado se encontrassem. "Eu não vi arrependimento nos olhos dele", disse.

O primeiro a ser ouvido pelo júri, ainda na manhã desta terça-feira, foi o policial militar Ronickson, irmão mais velho da adolescente, que classificou Lindemberg como "monstro, louco e agressivo".

Ele se emocionou ao falar sobre o caso e revelou que a família apenas "tolerava" o namoro entre Lindemberg e Eloá. "Ele era muito ciumento. A minha irmã nunca viveu a vida dela. Estava sempre com ele. Nunca vi ela sair com amigos, ir a um shopping. Não sei se era ele que não deixava ou ela não ia para não magoar ele", disse. "Minha irmã vivia chorando pelos cantos."

O irmão caçula da vítima, que era amigo de Lindemberg, também destacou a agressividade do réu e disse que o acusado já entrou no apartamento da família com a intenção de matá-la. "Ele tinha certeza do que queria fazer", afirmou.

Segundo os dois irmãos, a morte de Eloá "desestabilizou" profundamente a família. Além da tragédia, o pai, Everaldo Pereira, foi preso ao ser identificado como um foragido da Justiça ao passar mal diante das TVs em um momento do sequestro da filha. Ele está preso em uma penitenciária de Alagoas."A mãe de Eloá passa os dias chorando no quarto, tomando remédio, sempre que lembra sobre o que aconteceu, fica depressiva", contou Ronickson.

Ana Cristina chorou ao assistir ao depoimento do negociador do Gate, que disse que Lindemberg "espancava muito" a adolescente durante as 101 horas de cárcere privado. Enquanto as testemunhas falavam, Lindemberg praticamente não se mexeu, mantendo as mãos fechadas. A mãe de Eloá, porém, disse aos jornalistas que no rápido período em que ambos estiveram frente à frente no plenário, o rapaz fez um gesto que, na opinião dela, serviu para pedir que "aliviasse sua barra" ao depor. "Ele faria de novo, mataria Eloá", opinou Ana Cristina.

Além dos irmãos de Eloá e do policial do Gate, prestaram depoimento nessa terça-feira como testemunhas convocadas pela defesa os jornalistas Márcio Campos e Rodrigo Hidalgo, que cobriram o caso na época em que ele ocorreu; os peritos criminais Dairse Aparecida Lopes e Hélio Ramacciotti, da Polícia Civil; e o delegado Sérgio Luditza, do 6º DP (Distrito Policial) de Santo André, onde o caso foi registrado.

Invasão do apartamento
O depoimento do negociador do Gate Adriano Giovanini durou cerca de três horas e meia e, em diversos momentos, a defesa questionou a habilidade da polícia para negociar com Lindemberg. O policial falou principalmente sobre a invasão do apartamento da família de Eloá e sobre a volta da estudante Nayara Rodrigues, amiga da vítima, ao cativeiro.

Contrariando o que Nayara disse no dia anterior, o policial reafirmou que o Gate só invadiu o local após ouvir um disparo de dentro do apartamento. "Houve um disparo e a equipe invadiu". Questionado pela defesa do réu, Giovanini admitiu que os policiais não tinham equipamentos de tecnologia avançada para ouvir o que ocorria na residência, e que copos de vidro e um estetoscópio médico foram usados para auxiliar na audiência.

Giovanini também negou ter autorizado o retorno de Nayara ao apartamento de Eloá. Segundo ele, a adolescente se aproximou do local pois Lindemberg exigiu sua presença para soltar a refém, o que não ocorreu. Segundo ele, no entanto, Nayara sabia que não podia passar de um determinado ponto e se aproximar demais do criminoso. "Ela deve ter achado que aquela maneira iria ajudar mais a amiga", avaliou o PM.

"Hostilidade"
Ao final dos depoimentos, a advogada de Lindemberg disse à imprensa, em rápida entrevista em frente ao fórum, que estava sendo hostilizada pela população, devido às "mentiras" que a imprensa estaria publicando. Ao fim da sessão, que começou às 9h e só terminou por volta das 22h50, Ana Lúcia Assad pediu para deixar registrado na ata do julgamento que se sentiu ameaçada. Ana Lúcia se referia a uma informação supostamente divulgada de que ela discutiu com a mãe de Eloá - o que não ocorreu em nenhum momento.

"Se essa hostilização continuar por conta do que está sendo veiculado falsamente na imprensa, essa defensora não se sentirá segura para continuar os trabalhos em plenário. Gostaria de acrescentar que essa advogada referindo-se à si mesma não é acusada, nem tampouco ré, apenas está exercendo seu ofício", concluiu.

Nesta quarta-feira (15), o julgamento será retomado às 9h com o depoimento do policial militar do Gate Paulo Sérgio Schiavo, que atuou na invasão do apartamento. O réu também deve ser ouvido pelo júri antes dos debates das partes e do veredicto.

O mais longo cárcere de SP
A estudante Eloá Pimentel, 15 anos, morreu em 18 de outubro de 2008, um dia após ser baleada na cabeça e na virilha dentro de seu apartamento, em Santo André, na Grande São Paulo. Os tiros foram disparados quando policiais invadiam o imóvel para tentar libertar a jovem, que passou 101 horas refém do ex-namorado Lindemberg Alves Fernandes. Foi o mais longo caso de cárcere privado no Estado de São Paulo.

Armado e inconformado com o fim do relacionamento, Lindemberg invadiu o local no dia 13 de outubro, rendendo Eloá e três colegas - Nayara Rodrigues da Silva, Victor Lopes de Campos e Iago Vieira de Oliveira. Os dois adolescentes logo foram libertados pelo acusado. Nayara, por sua vez, chegou a deixar o cativeiro no dia 14, mas retornou ao imóvel dois dias depois para tentar negociar com Lindemberg. Entretanto, ao se aproximar do ex-namorado de sua amiga, Nayara foi rendida e voltou a ser feita refém.

Mesmo com o aparente cansaço de Lindemberg, indicando uma possível rendição, no final da tarde no dia 17 a polícia invadiu o apartamento, supostamente após ouvir um disparo no interior do imóvel. Antes de ser dominado, segundo a polícia, Lindemberg teve tempo de atirar contra as reféns, matando Eloá e ferindo Nayara no rosto. A Justiça decidiu levá-lo a júri popular






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