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CULTURA
Quinta - 07 de Outubro de 2010 às 16:01

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As mãos passeiam pelo corpo estático. Em meio à escuridão profunda dos olhos carentes de visão, Sônia adoraria entender o que significa aquela imagem, que parece, em sua opinião, de mulher. A estátua está em frente ao Teatro de Santa Isabel, no Centro do Recife, mas para Sônia Pereira, 61 anos, que nasceu sem ver, seu significado, até então, é desconhecido.

Ontem, no Museu de Arte Moderna, onde aconteceu a reunião do grupo, Edvaldo Guerra, 55, mostrou que seu alcance é limitados pelos degraus. Fotos: Juliana Leitão/DP/D.A. Press

A obra não tem qualquer identificação para pessoas que não enxergam, assim como outras obras de arte expostas em museus do Recife. As dificuldades de acesso à cultura é uma das maiores queixas das pessoas com deficiência visual, auditiva e física. Para mudar esse quadro, o recém-criado Grupo de Trabalho Acessibilidade Cultural (Gtac) está preparando um diagnóstico sobre as condições de acesso dessa pessoas aos bens culturais da capital pernambucana. A ideia é criar uma carta proposta para governos e sociedade pensarem políticas públicas sobre o assunto.

O projeto ainda está engatinhando. Ontem, na terceira reunião do grupo, foram listados 16 espaços, públicos e privados, que serão visitados pelos membros do Gtac para o diagnóstico. Entre os locais sugeridos estão o Pátio de São Pedro, a Torre Malakof, o Teatro de Santa Isabel e o Instituto Ricardo Brennand. “A questão da acessibilidade à cultura ainda é muito incipiente no Recife. Estamos atrasados nesse sentido e as expectativas são grandes a partir das diretrizes da Unesco e da Agenda 21 no que se refere ao acesso dessas pessoas aos bens culturais”, explicou Regina Buccini, da Gerência de Serviços de Formação em Artes Visuais da Prefeitura do Recife.

Invisíveis – No Brasil, segundo o IBGE, com base no Censo 2000, existem 24,6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência ou incapacidade, o que representa 14,5% da população brasileira que ainda carecem de políticas públicas eficazes. Edvaldo Guerra, 55, faz parte desse universo. Circula com a ajuda de uma cadeira de rodas há 19 anos, quando descobriu que tinha esquitossomose medular. “Sinto vontade deir ao Museu da Abolição, na Madalena, mas quando a gente chega na porta já vê os degraus e desanima”, contou. No próprio Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, na Rua da Aurora, onde aconteceu a reunião do Gtac, Edvaldo Guerra mostrou que seu alcance é limitado diante de um prédio com tantos degraus e sem elevadores. “Acho que a iniciativa pode mudar a cabeça dos gestores, mas as mudanças não devem ser somente para o acesso à cultura e sim a todos os setores”, propôs.

Sônia Pereira destaca que um bom exemplo de acessibilidade à cultura para cegos fica no Cabo de Santo Agostinho, no EngenhoMassangana. Lá, até mesmo o carro de boi tem uma indicação que pode ser lida pelos deficientes visuais. “Gosto de ir ao cinema do Shopping Boa Vista porque a Avenida Conde da Boa Vista tem sinalização para a gente nas calçadas. Mas chegar ao Teatro de Santa Isabel é muito difícil por causa das condições do calçamento”.

Regina Buccini espera concluir o diagnóstico até dezembro. Além de representantes da Prefeitura do Recife, também integram o grupo o Ministério da Cultura, a Fundarpe, o Crea, estudantes, profissionais e participantes de associações de pessoas com deficiência.






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