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Segunda - 14 de Novembro de 2011 às 12:51
Por: Alexandre Garcia

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Alexandre Garcia é jornalista em Brasília
Alexandre Garcia é jornalista em Brasília

Somos muito criativos para o mal. Lembram-se dos Anões do Orçamento? Era uma conspiração contra o contribuinte, entre parlamentares e funcionários do legislativo, para inventar verbas no orçamento, que depois eram usadas em benefício dos tais anões. Alguns foram cassados, outros continuaram com seu nanismo moral. O mesmo aconteceu com o mensalão, ainda a aguardar julgamento no Supremo. Como  escândalos geram algumas vacinas legais, os corruptos inventam outros ralos para esgotar os recursos que deveriam ir para estradas, escolas, hospitais, segurança. Primeiro, usaram fundações - algumas com os nomes de seus pais, ó filhos agradecidos! - e depois passaram a usar ONGs. ONG quer dizer Organização Não Governamental. Um nome hipócrita, porque se vive do dinheiro do governo, como pode ser não governamental?

Aí vem outra parte do sistema. Há ministérios que são entregues a partidos, em transação de porteira fechada. Os partidos usam o ministério para fazer caixa de campanha. Com isso se reforçam e em conseqüência ficam fortes para apoiar o governo na próxima eleição. Quando desavenças, ciúmes, traições, fazem surgir denúncias, o contribuinte descobre o que se faz com tanto dinheiro recolhido como imposto, que faz falta na prestação de serviços que são dever do estado. É preciso depender do chamadofogo amigo, porque nem a oposição nem os órgãos de fiscalização do estado conseguem cobrir tanta falcatrua. Vez por outra a Polícia Federal, o TCU, o Ministério Público, a Corregedoria da União pegam algum esquema.

E quando cai um ministro, depois de muita resistência e casco duro, a substituição fica subordinada à indicação do partido dono do ministério. A solenidade de troca em geral se transforma numa sucessão de elogios e votos de confiança para o ministro que sai, como se ele fosse um inocente bebê depois de batizado. E o partido sempre é preservado, como se nada tivesse a ver com os desvios. O partido sai feliz com seu caixa eleitoral engordando. Diga-se de passagem  que talvez seja mera coincidência que os ministros que caíram são os herdados do governo anterior, na sucessão de continuidade.

Ficou a mania de culpar as ONGs. A maioria é ONG séria, honesta, que presta excelentes serviços sociais. Descobriu-se recentemente que há cerca de 500 contratos com ONGs sem fiscalização no Ministério do Trabalho. Então, é o estado lavando as mãos, se omitindo ao não fiscalizar. É o estado criando a tentação para usar o dinheiro do povo nos próprios bolsos ou nos bolsos gordos dos partidos. E é bom lembrar que mesmo sem ONGs, nós sabemos dos contratos de varrição e lixo, de transporte público, de conservação e limpeza, que geram %%% para partidos e políticos. De pontos de encontro em Brasília que geram violação de sigilo de caseiro na Caixa, geram malas de dinheiro, misturam-se prostituição moral e corporal. O sistema de corrupção parece uma Medusa da mitologia, em que se corta uma serpente da cabeça e nascem outras mais.

Alexandre Garcia é jornalista em Brasília

 



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